Os corpos no espaço: confrontação ao simulacro democrático e resistência à estetização da política
Resumo
Resumo: O ano de 2016 iniciou-se, no Brasil, num quadro de “instabilidade política”, termo usado pela grande mídia para referir-se às disputas pelo poder político que vinham ocorrendo desde 2013, quando irromperam no cenário brasileiro manifestações populares de grandes proporções. Desde a chegada do século XXI, uma mudança no quadro da mobilização popular marcou o desenvolvimento da luta de classes mundial. Embora difusas e aparentemente desconectadas, as diversas mobilizações que ocorreram em diversos continentes, retomaram a centralidade do espaço urbano enquanto palco da práxis política. No Brasil, as discussões sobre o espaço urbano adquiriram relevância ao final da década de 1960, quando a urbanização ampliou-se exponencialmente. Desde então o espaço urbano está em crise: marcado pelos muros, pelos conflitos, pela violência e pela disputa espacial na qual a aliança entre classe dominante e o Estado tem vencido sempre. Contudo, novas experiências insurgentes têm demonstrado que é possível construir espaços de resistência frente ao avanço do capital. As ocupações escolares demonstram como o desgaste com as péssimas condições de vida nas cidades podem levar à efervescência da luta por direitos. Nesse sentido, buscou-se investigar as insurgências que se utilizam da desobediência civil e da ocupação do espaço como estratégia de luta contra os projetos de dominação da consciência e da colonização do saber. As mobilizações que ressurgiram no Brasil a partir de 2013 demonstraram que é possível reconfigurar a luta urbana e reativar a esfera de discussão dos movimentos sociais, da juventude e dos excluídos fortalecendo a construção de projetos contra-hegemônicos.
Palavras-chave: Espaço urbano; insurgência; desobediência civil; ocupações escolares.
Abstract: The year 2016 began in Brazil in a context of “political instability”, a term used by the mainstream media to refer to the disputes over political power that has been taking place since 2013, when popular manifestations of large proportions erupted in the Brazilian scene. Since the turn of the 21st century, a shift in popular mobilization has marked the development of the world class struggle. Although diffuse and apparently disconnected, the various mobilizations that took place in several continents, have returned to the centrality of the urban space as a stage of political praxis. In Brazil, discussions about urban space became relevant at the end of the 1960s, when urbanization expanded exponentially. Since then the urban space is in crisis: marked by walls, conflicts, violence and the space dispute in which the alliance between the ruling class and the state has always won. However, new insurgent experiences have shown that it is possible to build spaces of resistance against the advance of capital. School occupations demonstrate how the wear and tear of poor living conditions in cities can lead to the effervescence of the struggle for rights. In this sense, we sought to investigate the insurgencies that use civil disobedience and the occupation of space as a strategy to fight against projects of domination of consciousness and colonization of knowledge. The mobilizations that have resurged in Brazil since 2013 have shown that it is possible to reconfigure the urban struggle and reactivate the sphere of discussion of social movements, youth and the excluded, strengthening the construction of counter-hegemonic projects.
Keywords: urban space; insurgency; civil disobedience; occupations.
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PDFReferências
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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2179-8478.13.1.127-145
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