A mancha, o quadro, o signo: sobre a imagem pictórica em Benjamin e Lacan/ The stain, the painting, the sign: about the pictorial image in Benjamin and Lacan

Caciana Linhares

Resumo


Resumo: O artigo propõe uma articulação entre Benjamin e Lacan, considerando a proposição benjaminiana de que qualquer pintura que reivindique o direito à nomeação deve realizar a entrada da palavra da língua no meio da linguagem pictórica. A mancha, tal qual Benjamin a concebe, se aproximaria do que Lacan trata nos termos da função quadro, que só se realiza com a introdução do olhar como objeto a, do olhar como furo. Benjamin, no tratamento que confere à imagem pictórica, chega a formular que o verdadeiro problema da pintura é que, por um lado, a imagem pictórica se comporta como mancha e, inversamente, a mancha só existe no quadro. O nome e a mancha
constituiriam, para ambos, categorias a partir das quais enfrentam problemas que lhes são caros e que giram em torno do estatuto do nome. Nos dois autores, encontra-se a proposição de um dilema entre a universalidade da comunicação, o singular da nomeação pura como acontecimento, e um elemento negativo, próprio do simbólico. Esse elemento negativo marcaria a impossibilidade de
reunir as duas ordens, de sobrepô- las (universal e singular), marcando um elemento negativo no cerne da linguagem. O nome seria uma resposta à impossibilidade de o homem retornar à função nomeante de Deus, perdida, sem que essa queda o lance na tagarelice do comunicável, exilando de si o acontecimento, o singular, a história. O nome, assim, seria encontrado no cerne mesmo da comunicação como aquilo que lhe refrata, como aquilo que, se comportando como resto, resiste a uma apreensão universalizante.

Palavras-chave: imagem pictórica; mancha; objeto a; função quadro.

Abstract: This article proposes an articulation between Benjamin and Lacan, considering the Benjaminian proposition that any painting that claims the right to nomination must accomplish the entrance into the word of language in the midst of the pictorial language. The stain, as Benjamin conceives it, would approximate what Lacan treats in terms of the frame function,“ which is only accomplished by the introduction of Gaze as object a, Gaze as a hole. Benjamin, when it comes to pictorial image, formulates that the real problem of painting is that, in one hand, the pictorial image behaves as a stain, and conversely, the stain exists exclusively on the painting. The name and the stain would constitute, for both authors, categories from which they face problems
that are dear to them and that revolve around the statute of the name. In both authors, there is a proposition of a dilemma between the universality of communication, the singular of pure nomination such as an occurrence, and a negative element, characteristic of the symbolic. This negative element would mark the impossibility of bringing together the two orders, of overlapping them
(universal and singular) – marking a negative element at the heart of language. The name would be a response to the impossibility of man to return to God’s naming function, missed without this fall launch man into the chatter of communicable, exiling the event, the singular, history. The name would thus be found at the very heart of communication such as which that refracts itself,
performing like the rest, resisting to an universal apprehension.

Keywords: pictorial image; stain; object a; frame function.


Palavras-chave


imagem pictórica; mancha; objeto a; função quadro.

Texto completo:

PDF

Referências


BENJAMIN, W. Escritos sobre mito e linguagem. Tradução de Susana Kampff Lages e Ernani Chaves. São Paulo: Ed. 34, 2011a.

BENJAMIN, W. Sobre a linguagem em geral e sobre a linguagem do homem. In: ______. Escritos sobre mito e linguagem. Tradução de Susana Kampff Lages e Ernani Chaves. São Paulo: Ed. 34, 2011b.

BENJAMIN, W. Sobre a pintura ou signo e mancha. In: ______. Escritos sobre mito e linguagem. Tradução de Susana Kampff Lages e Ernani Chaves. São Paulo: Ed. 34, 2011c.

LACAN, J. O Seminário, livro 7: A ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.

LACAN, J. O Seminário, livro 8: A Transferência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1992.

LACAN, J. O Seminário, livro 10: A angústia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.

LACAN, J. O seminário, livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1985.

LACAN, J. O seminário, livro 13: O objeto da psicanálise. [S.d.]. Inédito (CDROM – Obra de Jacques Lacan [Sólo lectura]).

LUTEREAU, L. Las imágenes barrocas de Lacan. Ekstasis, Buenos Aires, v. 5, n. 1, p. 182-201, 2016. DOI: 10.12957/ek.2016.25052

POE, E. A carta roubada. In: ______. Histórias extraordinárias. Tradução, seleção e apresentação de José Paulo Paes. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 48-68.

RECALCATI, M. Las tres estéticas de Lacan. Psicoanalisis y Arte. Buenos Aires: Del Cifrado, 2006.

REGNAULT, F. Em torno do vazio: a arte à luz da psicanálise. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2001.

QUINET, A. Um olhar a mais: ver e ser visto na psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2179-8478.14.2.107-125

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Cadernos Benjaminianos
ISSN 2179-8478 (eletrônica)

Licença Creative Commons
Licenciada sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.