A hermenêutica fragmentária de Walter Benjamin/ Walter Benjamin’s fragmentary hermeneutic

Lidnei Ventura

Resumo


Resumo: O presente artigo discute a hermenêutica original de Walter Benjamin
em sua acepção fragmentária, bem como suas implicações éticas. Argumenta que a hermenêutica benjaminiana requer um modo de interpretação que não somente valoriza, mas que apreende o fenômeno em seus estilhaços, ruínas e fragmentos que, em cada peça do mosaico, manifesta a totalidade da ideia; de modo que em cada fragmento de pensamento há possibilidades de representação da ideia, havendo a necessidade de ir fundo nos detalhes, nos pormenores. Decorre desta concepção, a opção pelos excluídos da história oficial, mas que a fazem marginalmente, tais como a prostituta, o andarilho [flâneur], o vagabundo, o marginal, o dândi, impondo-se como compromisso ético-político a narração da história a contrapelo. Isso porque em cada fragmento, está contida a obra como mônada [conceito de Leibniz ressignificado], como ideia seminal [origem], cabendo à representação – por
meio do tratado – esboçar essa forma abreviada da ideia. O tratado requer um processo de respiração, de ida e vinda, de reflexão exaustiva e repetida sobre o objeto, com a finalidade de juntar pacientemente as partes do mosaico, o que certamente não pode ser feito em um mergulho único, nem more geométrico, como disse Benjamin. Trata-se não somente de desvio, errância, mas de
aproveitar-se dos desvios do caminho para atingir os extremos do fenômeno, não se demorando em sua exemplaridade, mas cavando e garimpando o que lhe é periférico, estranho e contorcido, como ele próprio faz no estudo do barroco.

Palavras-chave: hermenêutica fragmentária; método; mosaico; ética. Walter Benjamin.

Abstract: This article discusses Walter Benjamin’s original hermeneutic in its
fragmentary sense, as well as its ethical implications. It is argued that Benjemin’s hermeneutic requires a way of interpretation that not only values but also perceives the phenomenon in its shrapnels, ruins and fragments, which in each piece of the mosaic manifests the totality of the idea; so that in each fragment of thought there are possibilities of representation of the idea, and a need to go deep into the details. It follows from this conception, the option for those excluded from official history, but who do it marginally, such as the prostitute, the wanderer, the vagabond, the marginal, the dandy, imposing as an ethical-political commitment the narration of history against the grain. This is because in each fragment the work is retained as a monad [concept of Leigneign re-signified], as a seminal idea, and it is up to the representation – by means of the treaty – to sketch this abbreviated form of the idea. The treatise requires a process of breathing, of going back and forth, of exhaustive and repeated reflection on the object, in order to patiently join the parts of the mosaic, which certainly can not be done in a single dive, neither more geometric, nor said Benjamin. It is not just deviation, wandering, but taking advantage of the deviations of the way to reach the extremes of the phenomenon, not delaying in its exemplarity, but digging and panning what is peripheral, strange and contorted, like himself does in the study of the baroque.

Keywords: fragmentary hermeneutic; method; mosaic; ethic; Walter Benjamin.


Palavras-chave


hermenêutica fragmentária; método; mosaico; ética. Walter Benjamin.

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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2179-8478.14.2.139-155

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