Contra o juízo: Benjamin e a tarefa da crítica de arte como tradução

João Pedro Cachopo

Resumo


A tensão entre uma concepção ora positiva ora negativa da crítica – tipicamente associadas à “crítica de arte” e à “crítica da ideologia” – atravessa a obra de Benjamin de lés a lés, sendo que esclarecê-la é decisivo para compreender o modo como o filósofo e crítico alemão entende a relação entre arte e política no contexto do debate sobre a vanguarda. Solidário com este esclarecimento, o presente artigo ensaia uma aproximação entre as ideias de “crítica de arte” e de “tradução” – com base no ensaio de Benjamin sobre “A tarefa do tradutor” – com o objectivo de esclarecer a irredutibilidade da tarefa do crítico de arte às suas dimensões judicativa e hermenêutica. O sentido e a pertinência desta proposta torna-se mais claro à luz do paradoxo da traduzibilidade. Segundo Benjamin, uma obra é tanto mais traduzível quanto mais a sua tradução é difícil (i.e., quanto mais ela obriga o tradutor a alargar a língua de chegada para restituir o “modo de querer dizer” do original). A esta luz, afirmar que a tarefa do tradutor permite iluminar a do crítico equivale a insistir em dois pontos: por um lado, em que cabe ao crítico desdobrar de modo positivo o objecto criticado, sem recorrer a um saber que lhe permitisse corrigir o artista ou orientar o espectador/leitor/ouvinte; por outro lado, em que a sua atenção deve incidir sobretudo nos elementos negativos da obra, naquilo cuja irredutibilidade à interpretação a torna a um só tempo susceptível e digna de ser criticada.

Palavras-chave


crítica de arte; tradução; Benjamin; juízo; interpretação; espectador; Rancière

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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2179-8478.0.9.3-12

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