A apreciação dos trágicos gregos pelos poetas e teorizadores portugueses do século XVIII

Maria Helena da Rocha Pereira

Resumo


"O único caminho para nos tornarmos grandes, até mesmo, se possível, imortais, é a imitação dos Antigos". Esta famosa frase de Winckelmann, o fundador do Neo-helenismo, como lhe chamou Pfeiffer, é também válida para a maior parte dos poetas portugueses do Séc. XVIII. O renovado culto da Antigüidade tínha penetrado em Portugal por mediação francesa. A origem deste acontecimento cultural, que é considerado uma reação contra o barroco, reside, na opinião geral, na publicação de uma série de livros: primeiro, a tradução da Art Poétique de Boileau, por Fran cisco Xavier de Meneses, quarto Conde da Ericeira (escrita em 1697, e muito lida em manuscrito, mas só impressa em 1793), depois do Exame Critico de Valadares e Sousa (1739); sete anos mais tarde saiu O Verdadeiro Método de Estudar de Verney que deu, como todos sabem, o primeiro grande impulso à reforma dos estudos. No ano seguinte, portanto em 1747, estalou a demorada polêmica entre o Marquês de Valença e Alexandre de Gusmão sobre o novo teatro, na qual o primeiro defendia a dramaturgia espanhola, e o segundo a francesa. Apenas um ano mais tarde, publicou Francisco José Freire (o arcádico Cândido Lusitano) a sua Arte Poética, que compendiava quase todas as regras provenientes, não só da Poética de Aristóteles e de Horácio, mas também da de Franceses, Italianos e Espanhóis. Que o livro não apresenta qualquer ponto de vista original, recónheceu-o o próprio autor, ao citar, incessantemente, para além dos teóricos gregos e latinos, os humanistas do Séc. XVI como Vossius, Scaliger, Castelvetro, Minturno, Robortello, e os modernos dos Séc. XVII e XVIII, como Boileau, Le Bossu, Dacier, Rolin, Muratori, Luzán e muitos outros. Conquanto estes teorizadores fossem conhecidos dos poe tas portugueses, o tratado permaneceu como o compêndio basilar da maioria, como se deduz das entusiásticas palavras de Manuel de Figueiredo:

Palavras-chave


literatura grega; teatro; tragédia; Portugal

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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/0104-2785.5.0.93-112

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