Aristófanes e Platão: discursos sobre a mulher na Antiguidade

Karen Franklin

Resumo


Resumo: Este texto busca analisar o discurso sobre a mulher na Antiguidade, levando em conta dois universos distintos: primeiro, sob o prisma de Aristófanes com seu discurso cômico; segundo, sob o prisma de Platão com a ideia da guardiã na República. Ambos os discursos buscam expressar o universo feminino na Antiguidade, um utiliza a caricatura outro a excepcionalidade de posição. Porém, percebemos que nos dois discursos há a possibilidade de atuação de poderes femininos paralelos ao poder legislativo efetivo. Tecemos notas sobre a comédia aristofânica, uma forma literária que também poderá ser compreendida como um modo de revelar redes sociais informais entre as mulheres, bem como suas possibilidades de associação. O ideal de mulher pura e submissa expresso nos discursos legislativos da Antiguidade contrastam com o caricato apresentado por Aristófanes e pela construção da guardiã em Platão. Tais discursos demonstram que elas tinham mais liberdade do que transparecem os textos legislativos da época, fazendo-nos recolocar as questões da diferença entre a vida do discurso e a vida cotidiana.

Palavras-chave: mulher; Aristófanes; Platão.

Abstract: This text intends to analyze the discourse on women in antiquity, taking into account two different universes: first, through the prism of Aristophanes with his comic discourse; second, from the perspective of Plato with the idea of the female guardian in the Republic. Both discourses seek to express the feminine universe in ancient times, one uses the caricature, the other uses the exceptionality of position. However, we realize that in both there is the acting possibility of feminine powers parallel to the effective legislature. We made notes on the Aristophanic comedy, a literary form which could also be understood as a way of revealing informal social networks among women as well as their possibilities of association. The ideal of pure and submissive woman expressed in the legislative discourses of antiquity contrast to the caricature presented by Aristophanes and by the construction of the female guardian in Plato. Such discourses show that they had more freedom than the legislation of the time shows, making us raise the issues of the difference between the life of discourse and everyday life.

Keywords: woman; Aristophanes; Plato.


Palavras-chave


mulher; Aristófanes; Platão.

Texto completo:

PDF

Referências


ANNAS, J. Introduction à la République de Platon. Tradução de Béatrice Han; prefácio de J. Brunschwig. Paris: PUF, 1994.

ARISTÓFANES. As mulheres que celebram as Tesmofórias. Introdução, versão do grego e notas de Maria de Fátima de Sousa e Silva. 2. ed. Corrigida e aumentada, Coimbra: Instituto Nacional de Investigação Científica, 1988.

ARISTOPHANE. Théatre. Trad. M. J. Alfonsi. Paris: Flammarion, [s.d.] Tome second.

ARISTÓTELES. Poética. Tradução da versão inglesa de W. D. Ross: Leonel Vallandro e Gerard Bornheim. São Paulo: Nova Cultural, 1991. (Coleção Os Pensadores).

ARISTÓTELES. Política.Tradução Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

ARISTÓTELES. Retórica. Prefácio e introdução de Manuel Alexandre Júnior, trad. e notas Manuel Alexandre Júnior et al.4. ed. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2010.

ARNAOUTOGLOU, I. Leis da Grécia Antiga. Tradução Ordep Trindade Serra e Rosiléa Pizzaro Carnélós. São Paulo: Odysseus, 2003.

BOTT, E. Familia y Red Social.Tradução de R. Gobernado. Madrid: Taurus, 1990.

DESCHANEL, M. Émile. Études sur Aristophane. Paris: Hachette, 1867.

FRANKLIN, K. O papel da mulher na cidade: atividades femininas na Antiguidade e a idéia de guardiã em Platão. In: CORNELI, Gabrieli (Org.). Representações da Cidade Antiga: categorias históricas e discursos filosóficos. Lisboa: Universidade de Coimbra/ Clássica Digitalia/ Archai, 2010. p. 135-146.

HUNTER, R. L. A comédia Nova da Grécia e de Roma. Tradução de Rodrigo Tadeu Gonçalves; Guilherme Gontijo Flores et alli. Curitiba: Editora da UFPR, 2010.

LEÃO, D. F. Sólon e a legislação em matéria de direito familiar. In: MORA, C. M. (Coord). Ut par delicto sit poena: crime e justiça na Antiguidade. Aveiro: Centro de Línguas e Culturas, Universidade de Aveiro, 2005. p. 53-65.

LESSA, F. de S. O feminino em Atenas. Rio de Janeiro: Mauad, 2004.

LIMA, M. V. de; CORDÃO, M. P. de S. Discursos ciceronianos: a oratória como estratégia política na Roma Antiga. Clássica: Revista Brasileira de Estudos Clássicos/ Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, Belo Horizonte, v. 20, n. 2, 2007.

LIGHTMAN, M. ; LIGHTMAN, B. A to Z of ancient Greek and Roman women. rev. ed. New York: Facts on File, 2008.

LOURAUX, N. (Org.) La Gréce au Feminin, Paris: Belles Lettres, 2009.

NUSSBAUM, M. A República de Platão: a boa sociedade e a deformação do desejo. Tradução de Ana Carolina da Costa Fonseca et alli. Porto Alegre: Ed. Bestiário, 2004.

PLATÃO. República. Tradução de Maria Helena da R. Pereira. 6. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1990.

SILVA, M. de F. S. O trabalho feminino na Grécia Antiga: lenda e realidade. Clássica: Revista Brasileira de estudos clássicos/ Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, Belo Horizonte, v.20, n. 2, p. 182-201, 2006.

SILVA, M. de F. S. A posição social da mulher na comédia de Aristófanes. Humanitas, Coimbra, n. 31-32, p. 97-114, 1979-1980.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/1983-3636.12.1.91-116

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2016 Karen Franklin



Nuntius Antiquus
ISSN 2179-7064 (impressa) / ISSN 1983-3636 (eletrônica)

Licença Creative Commons
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.