Treslendo a citação (República): De Platão a Homero

Rafael Guimarães Tavares Silva

Resumo


A citação é normalmente entendida como prática discursiva por meio da qual é possível estabelecer um diálogo entre diferentes textos e contextos, em tom polêmico ou harmônico, apto a suscitar novas ideias e desenvolvimentos teóricos. A fim de problematizar essa noção básica, retomo algumas das teses de Bakhtin acerca de certa compreensão dialógica da linguagem – em sua crítica contumaz aos modelos linguísticos então vigentes, de base psicológica ou estruturalista. Na sequência, proponho novas considerações sobre as formas mais recorrentes de citação – oferecendo um breve catálogo das mesmas – e avanço alguns juízos sobre textos que se valem da prática da citação, em paráfrase ou em remissão direta ao discurso de outrem, para elaborar suas próprias ideias. Para isso revisito alguns casos clássicos dessa tradição – Homero e Platão, sobretudo em sua tensa relação, tal como delineada na República –, pretendo concluir voltando-me para certas leituras contemporâneas a fim de acenar para a possibilidade de uma “ética da leitura” que, por meio de uma “prática da leitura”, respeite o texto de outrem nas suas especificidades textuais e contextuais. É certo que um respeito absoluto a essas especificidades é impossível, mas gostaria de sugerir que qualquer ética – e uma “ética da leitura” não poderia ser diferente – só tem alguma chance de se dar efetivamente nos limites dessa impossibilidade mesma.


Palavras-chave


Citação; Bakhtin; Filosofia da linguagem; Platão; Homero

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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/1983-3636.13.1.205-226

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