Álbum de Caliban: Coelho Neto e a literatura pornográfica na Primeira República

Leonardo Mendes

Resumo


A partir de 1880, configura-se no Brasil um espaço novo de circulação de histórias licenciosas. O impresso pornográfico começa a aparecer nos anúncios de livrarias nos jornais de grande circulação. Surgem novos editores e livrarias, como a Livraria do Povo e a Livraria Moderna. A percepção de que havia um mercado para esse gênero de literatura era crucial para a decisão dos editores de investir nessas edições. Sob o pseudônimo Caliban, da peça A Tempestade (1611), de William Shakespeare, Coelho Neto criou uma persona para atender à demanda de literatura pornográfica, fabricando contos e crônicas licenciosos que foram publicados nos jornais de todas as regiões do país até o começo do século XX. Entre 1897 e 1898, os textos foram editados pela Livraria Laemmert em fascículos e reunidos no volume Álbum de Caliban. Neste estudo, vamos conhecer a faceta de autor licencioso de Coelho Neto e investigar sua atuação no incipiente mercado de literatura pornográfica na Primeira República.


Palavras-chave


pornografia; Coelho Neto; Brasil Republicano.

Texto completo:

PDF

Referências


ARARIPE JÚNIOR, T. A. Miragem. In: _____. Obra crítica de Araripe Júnior. v. V: 1911 e Anexos. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1958. p. 261-267.

BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec, 1987.

BARNETT, J. Porn panic: Sex and Censorship in the UK. Winchester: Zero Books, 2016.

BARRETO, A. H. L. Histrião ou Literato? In: _____. Impressões de leitura. São Paulo: Brasiliense, 1961. p. 188-191.

BOSI, A. A literatura brasileira. O pré-modernismo. São Paulo: Cultrix, 1966.

BOURDIEU, P. As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

BROCA, B. A vida literária no Brasil 1900. Rio de Janeiro: José Olympio, 2005.

BROWN, P. “This Thing of Darkness I Acknowledge Mine”: The Tempest and the Discourse of Colonialism. In: DOLIMORE, J. (Ed.). Political Shakespeare: Essays in Cultural Materialism. Manchester: Manchester UP, 1994. p. 48-71.

COELHO NETO, H. A conquista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1985.

COELHO NETO, P. Coelho Neto. Rio de Janeiro: Del Zenero & Garone, s.d.

DARNTON, R. Sexo dá o que pensar. In: NOVAES, A. (Org.). Libertinos e libertários. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 21-42.

EL FAR, A. Páginas de sensação: literatura popular e pornográfica no Rio de Janeiro (1870-1924). São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

GOULEMOT, J-M. Esses livros que se leem com uma só mão: leitura e leitores de livros pornográficos no século XVIII. São Paulo: Discurso Editorial, 2000.

HALICZER, S. Sexuality in the Confessional: a Sacrament Profaned. Oxford: Oxford University Press, 1996.

HALLEWELL, L. O livro no Brasil (sua história). São Paulo: Edusp, 1985.

HUNT, L. Obscenidade e as origens da modernidade. In: _____. (Org.). A invenção da pornografia: obscenidade e as origens da modernidade. São Paulo: Editora Hedra, 1999. p. 9-46.

JACOB, M. O mundo materialista da pornografia. In: HUNT, L. (Org.). A invenção da pornografia: obscenidade e as origens da modernidade. São Paulo: Editora Hedra, 1999. p. 169-215.

KENDRICK, W. The Secret Museum: Pornography in Modern Culture. New York: Viking, 1987.

MAINGUENEAU, D. O discurso pornográfico. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.

MEDEIROS E ALBUQUERQUE, J. J. Quando eu era vivo. Memórias de 1867 a 1934. Rio de Janeiro: Record, 1981.

MENDES, L. Biblioteca picante: o naturalismo como produto erótico. In: HELENA, L.; OLIVEIRA, P. C. (Org.). Literatura, arte e mercado: XI Seminário Nação-Invenção. Niterói: Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense, 2014. p. 83-95.

MENDES, L. Livros para Homens: sucessos pornográficos no Brasil no final do século XIX. Cadernos do IL, Porto Alegre, n. 53, p. 173-191, dez. 2016a.

MENDES, L. O livro pornográfico na Belle Époque: a década de 1890 e a invenção da “leitura alegre”. In: NEGREIROS, C.; OLIVEIRA, F.; GENS, R. (Org.). Belle Époque: crítica, arte e cultura. São Paulo: Intermeios, 2016b. p. 303-320.

MEYER, M. Folhetim: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

MORAES, E. R. Francesas nos trópicos: a prostituta como tópica literária. Teresa –Revista de Literatura Brasileira, São Paulo, n. 15, p. 165-178, 2014.

NEEDEL, J. A Tropical Belle Époque: Elite Culture and Society in Turn-Of-Century Rio de Janeiro. Cambridge: Cambridge UP, 1987.

PEREIRA, L. A. M. Coelho Neto: um antigo modernista. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2016.

PEREIRA, L. M. Prosa de ficção (de 1870 a 1920): história da literatura brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia, 1988.

RABELAIS, F. Gargantua. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1966.

RENAULT, D. A vida brasileira no final do século XIX: uma visão sociocultural e política de 1890 a 1901. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987.

SEVCENKO, N. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. São Paulo: Brasiliense, 1983.

SIMÕES JÚNIOR, A. A sátira no Parnaso: estudo da poesia satírica de Olavo Bilac em periódicos de 1894 a 1904. São Paulo: Editora Unesp, 2007.

SKURA, M. A. Discourse and the Individual: the Case of Colonialism in The Tempest. Shakespeare Quaterly, Washington DC, n. 40, p. 42-70, 1989.

SOBLE, A. Pornography: Marxism, Feminism, and the Future of Sexuality. New Haven: Yale University Press, 1986.

THÉRENTY, M-Ève. La littérature au quotidien: poétiques journalistiques au XIXe siècle. Paris: Éditions du Seuil, 2007. DOI: https://doi.org/10.14375/NP.9782020947336

VERÍSSIMO, J. O Sr. Coelho Neto. In: _____. Estudos de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Garnier, 1904. p. 1-24.

VIEIRA, R. F. Uma penca de canalhas: Figueiredo Pimentel e o naturalismo no Brasil. 2015. Dissertação (Mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada) – Instituto de Letras, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2015.

WILLIAMS, L. Hard Core: Power, Pleasure and the Frenzy of the Visible. Berkeley: University of California Press, 1999.

WILSON, E. Bohemians: the Glamorous Outcasts. New Brunswick: Rutgers University Press, 2000.

WOODMANSEE, M. The Author, Art and the Market – Rereading the History of Aesthetics. New York: Columbia University Press, 1994.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2358-9787.26.3.205-228

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2017 Leonardo Mendes

Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.

O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira
ISSN 0102-4809 (impressa) / ISSN  2358-9787 (eletrônica)

License

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.