As dúvidas póstumas de Félix: ciúme, ressentimento e ascetismo em Ressurreição, de Machado de Assis

Vitor Cei

Resumo


O artigo propõe uma análise do primeiro romance de Machado de Assis, Ressurreição, com base nos conceitos filosóficos de ressentimento e ascetismo. O objetivo é argumentar que o ciumento protagonista Félix, ao sofrer com “dúvidas póstumas”, assemelha-se ao “homem do ressentimento” e ao “asceta”, tipos fisiopsicológicos estudados por Nietzsche em Genealogia da moral e ficcionalizados por Machado em Dom Casmurro e Memorial de Aires, respectivamente. Félix, assim como Bento Santiago, é um sujeito ciumento refém de seu passado e de suas marcas, desprovido daquela que seria a autêntica ação (a afirmativa), restando-lhe somente a reação, que consiste numa espécie de autoenvenenamento que o devora por dentro. E, tal qual o Conselheiro Aires, Félix pratica um ascetismo sui generis, evitando contaminar-se emocionalmente com relações afetivas. Veremos que os tipos nietzschiano e machadiano mostram-se complementares na discussão sobre o lugar de Félix no universo ficcional de Machado, de modo que sua comparação oferece uma contribuição para uma renovada compreensão das dimensões literária e filosófica de Ressurreição.


Palavras-chave


ascetismo; ciúme; ressentimento.

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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2358-9787.26.3.159-175

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