A batalha de Eros no sertão de Rosa

Claudicélio Rodrigues da Silva

Resumo


Resumo: O artigo se propõe a discutir a natureza erótica em Grande Sertão: Veredas estabelecendo como ponto de partida as noções de Eros apresentadas n’O banquete, de Platão. Sabendo-se que o discurso erótico no diálogo platônico é múltiplo, buscou-se neste estudo demonstrar que a natureza indômita de Eros agencia a narrativa de Rosa fundindo o plano da guerra exterior, as batalhas pelo poder no sertão, com o plano da guerra interior, o embate entre aquilo que a tradição expõe como interdito e o desejo que quer transgredir. Se Diadorim nutre o Eros que o impulsiona à guerra, Riobaldo é alimentado por um Eros que só pode consumar o desejado à luz da imaginação ou da pulsão de ver. O conceito freudiano de pulsão, ou impulso erótico, sustenta a tese de que a saga rosiana assume um caráter de prosa moderna justamente porque aciona categorias psicológicas no monólogo-diálogo de Riobaldo que permitem ao leitor confrontar o dentro e o fora, o eu e o outro, o narrado e o narrável. De natureza interdisciplinar, o estudo parte da filosofia de Platão e aproxima-se da psicanálise, com as categorias desenvolvidas por Freud (2010, 2013), tais como pulsão de vida e de morte e pulsão de olhar.

Palavras-chave: Guimarães Rosa; erotismo; pulsão; desejo.

Abstract: We propose a discussion about the erotic nature in Grande Sertão: Veredas (The Devil To Pay in the Backlands), establishing the Eros’ concept shown in Plato’s Συμπόσιον (Symposium) as the starting point. It is acknowledged that there’s a multiple erotic discourse in platonic dialogues, hence its study aims to show the Eros’ indomitable nature informs Rosa’s narrative. His narrative mixes the exterior war plan (the battles for power in northeast backlands) with the interior war plan (the clash between what the traditional society claim as a taboo and the desire to break free). If Diadorim nurtures the Eros connected to war impulses, Riobaldo is fed by an Eros that can only be consumed in the light of imagination or the drive to see. The Freudian concept of drive, or erotic impulse, sustains the thesis that Rosa’s journey emerges as a modern prose mostly because it fires psychological categories on Riobaldo’s monologue-dialogue, allowing the reader to confront the character’s inside out, the “me” and the “other,” the narrated and the tellable. This study develops its interdisciplinary nature as it starts from Plato’s philosophy and gets closer to psychoanalysis, with categories developed by Freud (2010, 2013), such as life drive versus death drive and sight drive.

Keywords: Guimarães Rosa; erotism; drive; desire.


Palavras-chave


Guimarães Rosa; erotismo; pulsão; desejo; erotism; drive; desire.

Texto completo:

PDF

Referências


AGAMBEN, Giorgio. Estâncias – a palavra e o fantasma na cultura ocidental. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.

BUSSOLOTTI, Maria Apparecida Faria Marcondes (Org.). João Guimarães Rosa: correspondência com seu tradutor alemão Curt Meyer-Clason. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.

CANDIDO, Antonio. O homem dos avessos. In: ______. Tese-antítese. São Paulo: T. A. Queiroz, 2002, p. 125-139.

DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Ed. 34, 1998.

DURÃES, Fani Schiffer. O mito de Fausto em Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: ABL, 1999.

FREUD, Sigmund. Além do princípio do prazer. In: História de uma neurose infantil (“o homem dos lobos”), além do princípio do prazer e outros textos (1917-1920). Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 161-239. (Obras Completas, 14).

FREUD, Sigmund. As pulsões e seus destinos. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

GALVÃO, Walnice Nogueira. As formas do falso: um estudo sobre a ambiguidade em Grande sertão: veredas. São Paulo: Perspectiva, 1986.

GARBUGLIO, José Carlos. Guimarães Rosa, o pactário da língua. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, v. 22, p. 167-180, 1980.

HAN, Byung-Chul. Topologia da violência. Tradução de Enio Paulo Giachini. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.

MACHADO, Ana Maria. Recado do Nome: leitura de Guimarães Rosa à luz do nome de seus personagens. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.

MAY, Simon. Amor, uma história. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

NUNES, Benedito. A Rosa o que é de Rosa: literatura e filosofia em Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: DIFEL, 2013.

PLATÃO. O banquete. Tradução e notas de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Editora 34, 2016.

RONCARI, Luiz. A tríade do amor perfeito no Grande sertão.... In: O cão do sertão: literatura e engajamento: ensaios sobre Guimarães Rosa, Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade. São Paulo: UNESP, 2007. p. 125-132.

RONCARI, Luiz. O Brasil de Rosa: mito e história no universo rosiano: o amor e o poder. São Paulo: Editora UNESP, 2004.

ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 15. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1982.

ROSENFIELD, Kathrin Holzermayr. O pacto entendido como “lance”. Organon, Porto Alegre, v. 6, n. 19, p. 93-99,1992.

SCHWARZ, Roberto. Grande sertão e Dr. Faustus. In: ______. A sereia e o desconfiado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. p. 43-52.

SOUZA, Ronaldes de Melo e. A saga rosiana do sertão. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2008.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2358-9787.28.1.205-228

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2019 Claudicélio Rodrigues da Silva

Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.

O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira
ISSN 0102-4809 (impressa) / ISSN  2358-9787 (eletrônica)

License

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.