Caminhos da consagração: Guimarães Rosa e o julgamento crítico

Mônica Fernanda Rodrigues Gama

Resumo


Resumo: Quando um autor expõe suas leituras e o modo como avalia diferentes práticas literárias, ele oferece uma oportunidade de compreendermos particularidades da prática literária, percebidas a partir de um ponto de vista interno. Mais que curiosa, essa visão interna nos dá pistas de mecanismos e escolhas relativas à percepção de valores literários. Os escritores, agentes literários dotados de um singular capital simbólico, podem perceber, elucidar e avaliar a literatura de seus contemporâneos, associando suas assinaturas aos nomes dos que desejam integrar o campo literário, por meio da crítica literária, desdobrando-se em um escritor-crítico. Outra forma de intervenção no campo literário por parte de escritores é a participação como jurados de concursos de literatura, cumprindo então um papel avaliativo. Guimarães Rosa não fazia crítica literária publicamente. Negava-se, sobretudo, a comentar seus contemporâneos, mas publicou textos em que ficcionalizou escritores, apresentando-os criticamente. Além desse jogo lúdico, pouco comentado (talvez pelo tom enigmático da brincadeira), exerceu em seus manuscritos algumas facetas de escritor-crítico, como vemos em suas anotações como jurado do prêmio Walmap (1966). Neste artigo, abordaremos textos sobre o concurso Humberto de Campos (1937), quando Guimarães Rosa foi julgado por Graciliano Ramos, e as anotações do prêmio Walmap, quando o autor mineiro assume o lugar de avaliador, observando quais critérios são reatualizados pelos dois escritores para a compreensão de seus contemporâneos. Além disso, abordaremos os poucos textos assinados por Guimarães Rosa para apresentar escritores estreantes, nos quais podemos perceber outro éthos autoral em cena.

Palavras-chave: Guimarães Rosa; concursos literários; Graciliano Ramos; escritores-críticos.

Abstract: When a writer exposes their readings and their way of analysing different literary productions, we have in hands a probing opportunity to comprehend particularities of the literary practice experienced by an inner point of view. More than curious, such point of view evidences mechanisms and choices related to the perception of literary values. Writers, as literary agents skilled with a symbolic and unique power, can elucidate, apprehend, and analyse their coeval colleagues’ literature. By becoming critical writers, they associate, through literary criticism, their character with the names of those who want to be part of the literary field. Another way for writers to act in the literary field is by being judges on literary contests, assuming an evaluative characteristic. Publicly, Guimarães Rosa was not a literary critic. He repudiated to comment his coetaneous colleagues. However, Rosa published texts in which he critically presented fictional authors. Besides this ludic game (uncommented probably due to his enigmatic game), he practiced some critical-writer aspects in his manuscripts, as in his notes on the Walmap Contest (1966), in which he was a judge. In this paper, we assess texts about both the Humberto de Campos Contest (1937) and the Walmap Contest, when Rosa took on the judge position. Our objective is to observe which criteria are revisited by both the authors to comprehend their coeval colleagues. At the same time, we analyse the few texts Rosa used to introduce the newcomer writers. In these few texts, we can perceive a different authorial ethos on the scene.

Keywords: Guimarães Rosa; literary contests; Graciliano Ramos; critical writers.


Palavras-chave


Guimarães Rosa; concursos literários; Graciliano Ramos; escritores-críticos; literary contests; critical writers.

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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2358-9787.27.3.151-174

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