Escrever a alteridade, inscrever o animal: entre Jacques Derrida e Clarice Lispector / Write the Otherness, Inscribe the Animal: Between Jacques Derrida and Clarice Lispector

Fernando Sepe Gimbo

Resumo


Resumo: Trata-se de apresentar a questão ético-política que o problema da alteridade animal coloca através de uma articulação entre filosofia e literatura. Para tanto, primeiramente exponho uma leitura parcial sobre as diversas conferências dadas por Jacques Derrida em torno do assunto. Conferências essas reunidas sobre o título “O animal que logo sou”, verdadeiro ensaio para uma filosofia futura capaz de (re)escrever a animalidade a partir da tradição filosófica. Nesta releitura, proponho que o principal resultado do texto derridiano é uma recolocação da questão ética da violência sobre o outro, assim como uma reflexão política sobre o caráter antropocêntrico da modernidade. Feito isso, passo para uma análise de um conto de Clarice Lispector intitulado “O crime do professor de matemática”. Conto que compõe a coletânea Laços de Família e que consiste em um agudo relato sobre a relação entre o homem e o animal. Mais do que um simples exercício de exemplificação, trata-se de pensar com a literatura um tema que, historicamente, fora enclausurado pelo discurso filosófico no dualismo próprio ao que Derrida chama de “tradição do cogito”.

Palavras-chaves: Derrida; Lispector; animal studies; humanismo; desconstrução.

Abstract: It is a matter of presenting, through an articulation between philosophy and literature, the ethical-political question that the problem of animal alterity poses. For this, I first present a partial reading on the various lectures given by Jacques Derrida on the subject. Conferences that have been assembled on the title “The Animal that therefore I am “, a true essay for a future philosophy capable of (re) writing animality from its own tradition. In this rereading, I propose that the main result of the Derridian text is a replacement of the ethical question of violence over the other, as well as a political reflection on the anthropocentric character of modernity. Having done that, I turn to an analysis of a short story by Clarice Lispector entitled “O crime do professor de matemática”. Short story which consists of an acute report on the relationship between man and animal. More than a simple exercise of exemplification, it is a matter of thinking with literature a theme that has historically been cloistered by philosophical discourse in the binarism proper to what Derrida calls the “cogito tradition.”

Keywords: Derrida; Lispector; animal studies; humanism; desconstruction.


Palavras-chave


Derrida; Lispector; animal studies; humanismo; desconstrução; animal studies; humanism; desconstruction.

Texto completo:

PDF

Referências


ADORNO, T. Beethoven: Philosophy of music. Cambridge: Polity Press, 2002.

ADORNO, T; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.

AGAMBEN, G. O aberto, Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2013.

ANDRADE, E. A opacidade do iluminismo: o racismo na filosofia moderna. Revista Kriterion, Belo Horizonte, v. 58, n. 137, 2017. DOI: https://doi.org/10.1590/0100-512x2017n13704ea.

BATAILLE, G. L’érotisme. Paris: Les éditions de minuit, 2011.

BATAILLE, G. L’expérience intérieure. Paris: Galimard, 2014.

BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994.

CAMPOS, H. Introdução à Escritura de Clarice Lispector. In: ______. Metalinguagens e outras metas. São Paulo: Perspectiva, 1992.

CANDIDO, A. No raiar de Clarice Lispector. In: ______. Vários escritos. 3 ed. São Paulo: Ouro Azul, 2004.

CIXOUS, H. Reading with Clarice Lispector. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1990.

COETZEE, J. A vida dos animais. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

DERRIDA, J. Aporias, California: Standford University Press, 1994.

DERRIDA, J. O animal que logo sou. São Paulo: Fundação editora UNESP, 2002.

DERRIDA, J., The animal that therefore I am. New York: Fordham University Press, 2008.

DESCARTES, R. Meditações metafísicas., São Paulo: Abril cultural, 1993. (Coleção Pensadores)

HABERMAS, J. O discurso filosófico da modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

HEIDEGGER, M. Conceitos fundamentais de metafísica: mundo, finitude, solidão. Tradução de Marcos Casanova. Rio de Janeiro: Forense universitária, 2006.

HEIDEGGER, M. Ser e Tempo. Tradução de Fausto Castilho. Campinas: UNICAMP; Vozes, 2012. (Edição bilíngue)

KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: edições 70, 2007.

LEVINAS, E. Totalité et infini. Paris: Livre de Proche, 1990.

LISPECTOR, C. A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco, 2009.

LISPECTOR, C. Água viva, Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

LISPECTOR, C. O búfalo. In:______. Todos os contos. Rio de Janeiro: Rocco, 2016b.

LISPECTOR, C. O crime do professor de matemática. In: ______. Todos os contos. Rio de Janeiro: Rocco, 2016a.

MACIEL, E. Zoopoéticas contemporâneas. Remate de males, v. 27 n. 2, 2007, p.197-206. DOI: https://doi.org/10.20396/remate.v27i2.8636004.

MACINTYRE, A. Dependent rational animals: why human beings need the virtues. Chicago: Open Court, 1999.

NUNES, B. O drama da linguagem: uma leitura de Clarice Lispector. São Paulo: Ática, 1989.

RICOER, P. A metáfora viva. São Paulo: Loyola, 2005.

ROSA, J. G. Meu tio o Iauaretê. In: ______. Estas estórias. São Paulo: Nova Fronteira, 2016.

SANT’ANNA, A. Análise estrutural dos romances brasileiros, 2 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1973.

SARTRE, J. O Ser e o Nada: ensaio de ontologia-fenomenológica. São Paulo: Vozes, 2009.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2358-9787.29.1.7-32

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2020 Fernando Sepe Gimbo

Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.

O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira
ISSN 0102-4809 (impressa) / ISSN  2358-9787 (eletrônica)

License

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.