Teatralizações femininas. Cecília Meireles e Sophia de Mello Breyner Andresen: tradutoras / Female Theatrical Performances. Cecília Meireles and Sophia de Mello Breyner Andresen: Translators

Susana Scramim

Resumo


Resumo: O objetivo desta reflexão é comparar as práticas de escrita de duas poetas, a saber, Sophia de Mello Breyner Andresen e Cecília Meireles, com as traduções que fizeram, respectivamente, de Hamlet, Shakespeare, em 1987, e Orlando, Virgínia Woolf, em 1948. A partir da análise dessas traduções, comparadas a alguns poemas de ambas as poetas, pretende-se desenvolver a afirmação de Giorgio Agamben (2007) de que o poeta moderno elabora sua subjetividade sem deixar que esta fique marcada por um “lugar” ao qual ela devesse “retornar” em nome de uma originalidade primordial de sua palavra lírica. O sujeito decorrente desse processo está livre para viver esse momento presente no qual ele se encontra com sua incompletude e compreende que é feito de uma angústia analisável. Contemplar a linguagem é o modo de produzir subjetividades não essenciais. A tradução é um dos modos mais eficientes de se pensar a palavra. Sendo operada por deslocamentos incessantes, a prática da tradução é um interrogar-se sem cessar – e angustiadamente – pelo sentido da materialidade mesma da estrutura da palavra sem alcançar o sentido pleno do que é traduzido. A tradução faz surgir de um ato objetivo uma potência subjetiva, pois de seu vazio de conteúdo pode ser dito algo de novo.

Palavras-chave: Sophia de Mello Breyner Andresen; Cecília Meireles; poesia brasileira; poesia portuguesa; tradução.

Abstract: The purpose of this reflection is to compare the writing practices of the two poets, Sophia de Mello Breyner Andresen and Cecília Meireles, with the translations they made of Hamlet, Shakespeare, Breyner in 1987, and Orlando, Virginia Woolf, by Meireles in 1948. From the analysis of these translations, compared to some poems of both poets, it is intended to develop Giorgio Agamben’s (2007) claim that the modern poets elaborate their subjectivity without allowing it to be marked by a “place” to which they owe “return” in the name of a primordial originality of their lyrical word. The subject resulting from this process is free to live in this present moment in which they find themselves with their incompleteness and understand that they are made of an analyzable anguish. Contemplating language is the way to produce non-essential subjectivities. Translation is one of the most efficient ways of thinking about the word. Being operated by incessant displacements, translating is to constantly interrogate and distress oneself for the meaning of the very materiality of the word structure without reaching the full meaning of what is translated. Translation gives rise to subjective power from an objective act, because something new can be said of its content void.

Keywords: Sophia de Mello Breyner Andresen; Cecília Meireles; Brazilian poetry; Portuguese poetry; translation.


Palavras-chave


Sophia de Mello Breyner Andresen; Cecilia Meireles; poesia brasileira; poesia portuguesa; tradução; Sophia de Mello Breyner Andresen; Cecilia Meireles; Brazilian poetry; Portuguese poetry; translation.

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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2358-9787.29.3.56-74

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