Identidade como um problema modelar nos estudos literários afro-brasileiros

Lucas Anderson Neves de Melo, Alcione Corrêa Alves

Resumo


As discussões contemporâneas, na comunidade científica dos Estudos Literários, no Brasil, sobretudo, em torno da Literatura Afro-brasileira, têm sido marcadas pela centralidade do conceito identidade, enquanto categoria analítica. Nesta seara, a identidade tem sido examinada em sua forma desconstruída. A identidade, assim posta sob rasura, conforme a hipótese de Stuart Hall (2014), demandaria, para ser dialeticamente superada, uma mudança que extrapolaria a dimensão da representação conceitual, e se concentraria nas bases paradigmáticas. Contudo, quando do deslocamento paradigmático, o conceito de identidade não fora substituído, mas recolocado ao centro do paradigma de interseccionalidade (Akotirene, 2019; Collins, 2019; Collins; Bilge, 2021). Destarte, o presente artigo objetiva apresentar uma primeira proposta de sistematização da problemática ora identificada. Para tal, reportaremos um conjunto de pesquisas prévias, que versem sobre a temática em tela. Como resultados parciais ou preliminares à questão formulada, apresentamos duas hipóteses.

Palavras-chave


identidade; rasura; Stuart Hall; interseccionalidade; Literatura Afro-Brasileira

Texto completo:

PDF

Referências


AKOTIRENE, C. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro, Pólen, 2019.

ALCOFF, L. M. Uma epistemologia para a próxima revolução. Sociedade e Estado. Brasília, n. 1, v. 31, jan./abr., 2016, p. 129-143. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-69922016000100007. Acesso: 13 dez. 2022.

ALVES, A. C.. A teoria literária como jogo. In: ALVES, M. C.; ALVES, A. C. (org.). Epistemologias e metodologias negras, descoloniais e antirracistas. Porto Alegre: Rede UNIDA, 2020, p. 35-50.

ANDRADE, F. R. de. Educação e a crise da autoridade. In: ANDRADE, F. R. Crise educacional e mundo pré-totalitário: a compreensão de Hannah Arendt. Teresina: EDUFPI, 2014, p. 171-188.

ARENDT, H. Sobre a violência. Tradução: André Duarte. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.

ARENDT, H. A tradição e a época moderna. In: ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. Tradução: Mauro W. Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 2014, p. 28-42.

ARENDT, H. Que é autoridade? In: ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. Tradução: Mauro W. Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 2014, p. 127-187.

BISPO, E. F. Processos de crioulização no romance Um defeito de cor: as condições de possibilidade a uma identidade cultural latino-americana. Orientador: Alcione Correa Alves. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Federal do Piauí, 2017.

BHABHA, H. K. O local da cultura. Tradução: Myrian Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis, Gláucia Renate Gonçalves. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2019.

CARMO FILHO, R. S. do; LOPES, S. A. T.; ALVES, A. C.. Canto dos desenraizados em Diário de um retorno ao país natal, de Aimé Césaire. In: COSTA, M. T. de A. Anais do X Congresso Internacional de Línguas e Literatura. 2022, p. 132-148. E-book.

CARNEIRO, A. S. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. Tese (Doutorado em Educação), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.

CARVALHO, J. C. B. de. Literatura e atitudes políticas: olhares sobre o feminino e antiescravismo na obra de Maria Firmina dos Reis. Dissertação (Mestrado em Letras) – Programa de pós-graduação em Letras, Universidade Federal do Piauí, 2018. Disponível em: https://drive.google.com/drive/folders/12dtFCFkzJsfjKUAhBh_VviO7iFym8tyl. Acesso em: 12 maio 2022.

COLLINS, P. H. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. Tradução: Jamille Pinheiro Dias. São Paulo: Boitempo, 2019.

COLLINS, P. H.; BILGE, S. Interseccionalidade. Tradução: Rane Souza. São Paulo: Boitempo, 2021.

DE TILIO, R.; VIEIRA, M. de P. P. Sistemas não-binários de gênero e sexualidade. Revista DisSoL - Discurso, Sociedade e Linguagem. Pouso Alegre, ano VI, n. 13, jan/jun., 2021, p. 42-54. Disponível em: https://doi.org/10.35501/dissol.vi13.835. Acesso em: 2 set. 2022.

DUSSEL, E. Filosofia da libertação: na América Latina. Tradução: Luiz João Gaio. São Paulo, Edições Loyola, s.d.

DUSSEL, E. Método para uma filosofia da libertação: superação analética da dialética hegeliana. Tradução: Jandir João Zanotelli. São Paulo: Edições Loyola, 1986.

EVARISTO, C. Luamanda. In: EVARISTO, C. Olhos d’água. 11 reimp. Rio de Janeiro: Pallas; Fundação Biblioteca Nacional, 2019, p. 59-64.

FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. Tradução: Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008.

FAUSTINO, D. M. A. “interdição do reconhecimento” em Frantz Fanon: a negação colonial, a dialética hegeliana e a apropriação calibanizada dos cânones ocidentais. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba, v. 33, n. 59, mai./ago. 2021, p. 455-481. Disponível em: https://doi.org/10.7213/1980-5934.33.059.DS07. Acesso em: 2 maio 2022.

GLISSANT, É. Le discours antillais. Paris: Gallimard, 1997.

GLISSANT, É. Introdução a uma poética da diversidade. Tradução: Enilce do C. A. Rocha. Juiz de Fora: Editora da UFJF, 2005.

GLISSANT, É. O pensamento do tremor: la cohée du lamentin. Tradução: de Enilce do Carmo A. Rocha e Lucy Magalhães. Juiz de Fora: Gallimard/Editora UFJF, 2014.

GLISSANT, É. Poética da relação. Tradução: Marcela Vieira, Eduardo Jorge de Oliveira. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.

HALL, S. Quem precisa de identidade? In: SILVA, T. T. da (org). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 103-133.

HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 12 ed. Rio de Janeiro: Lamparina: 2020.

KILOMBA, G. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Tradução: Jess Oliveira. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. Tradução: Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1998.

LAZARSFELD, P. A tradução dos conceitos em índices. In: LAZARSFELD, P. A sociologia. Lisboa: Bertrand, 1974.

MARX, K. O Capital, v. 1.Tradução: Regis Barbosa. São Paulo: Nova Cultural, 1996a.

MARX, K. O Capital, v. 2. Tradução: Regis Barbosa. São Paulo: Nova Cultural, 1996b.

NASCIMENTO, t. da palavra queerlombo ao cuíerlombo da palavra. palavra, preta! poesia di dendê. 12 mar. 2018. Disponível em: da palavra queerlombo ao cuíerlombo da palavra | palavra, preta! (wordpress.com). Acesso em: 02 out. 2022.

MELO, L. A. N. de. Caliban ou uma fala contra-hegemônica: lugar de enunciação, fratura e escuta descolonial. Dissertação (Mestrado em Letras) – Programa de pós-graduação em Letras, Universidade Federal do Piauí, 2022. Disponível em: Dissertações 2022 - Google Drive. Acesso em: 24 nov. 2022.

MINAYO, M. C. de S. Análise qualitativa: teoria, passos e fidedignidade. Ciência & Saúde Coletiva, 17(3), 2012, p. 621-626. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-81232012000300007. Acesso em: 10 set. 2022.

NATÁLIA, L. Correntezas e outros estudos marinhos. Salvador: Ogum’s Toques Negros, 2015.

OLIVEIRA, C. S. de. Construção de identidades negras na contística de Cristiane Sobral. Dissertação (Mestrado em Letras) – Programa de pós-graduação em Letras, Universidade Federal do Piauí, 2019. Disponível em: BANCO DE DISSERTAÇÕES - Google Drive. Acesso em: 12 maio 2022.

OLIVEIRA, C. S. de; ALVES, A. C. O “O tapete voador”, de Cristiane Sobral: o mérito ou as raízes?. Cerrados, Brasília, v. 30, n. 57, p. 19-33, dez. 2021. Disponível em: https://doi.org/10.26512/cerrados.v30i57.38237.

OLIVEIRA, L. A filosofia e o mundo contemporâneo: sobre ética e pós-modernidade. In: Informe Econômico. Ano 11, n. 23, nov. 2010, p. 2-7.

PERISSINOTTO, R. M. Hannah Arendt, poder e a crítica da “tradição”. In: Lua Nova, n. 61, 2004, p. 115-138. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-64452004000100007.

QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, E. (org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005, p. 117-142.

SILVA, A. N. O abandono divino e a tomada de consciência em Estela sem Deus, de Jeferson Tenório. LiterAfro, 28 Jul. 2021. Disponível em: Jeferson Tenório - Estela sem Deus - Literatura Afro-Brasileira (ufmg.br). Acesso em: 2 fev. 2022.

SILVA. M. do D. da C. Violência-resistência em “Duzu-Querença” e “Ana Davenga”, de Conceição Evaristo. Dissertação (Mestrado em Letras) – Programa de pós-graduação em Letras, Universidade Federal do Piauí, 2017. Disponível em: Banco de dissertações - Google Drive. Acesso em: 12 maio 2022.

STEVANIM, L. F. F. Sobre pontes e abismos: aproximações e conflitos entre os estudos culturais e a economia política da comunicação a partir da obra de Stuart Hall. Matrizes, v. 10, n. 3, set/dez, 2016, p. 173-186.

SPIVAK, G. A. Pode o subalterno falar?. Tradução: Sandra R. G. Almenda, Marcos P. Feitosa, André P. Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

TENÓRIO, J. Estela sem Deus. Porto Alegre: Zouk, 2018.

WILLIAMS, E. Capitalismo e escravidão. Tradução: e notas Carlos Nayfeld. Rev. téc. Ilmar Rohioff de Mattos. Introdução D. W. Brogan. Rio de Janeiro: 1975, p. 07-34.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2358-9787.32.4.420-444

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2024 Lucas Anderson Neves de Melo, Alcione Corrêa Alves

Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.

O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira
ISSN 0102-4809 (impressa) / ISSN  2358-9787 (eletrônica)

License

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.