Resumo
Os romances iniciais de Machado de Assis têm sido considerados por parte significativada crítica como dotados de uma poética romântica, os quais se distinguem dos romancesmaduros, compostos a partir de uma poética realista. De acordo com essa visão, nessesúltimos se encontraria maior refinamento na composição de eventos e personagens e, aomesmo tempo, maior capacidade de reflexão sobre o método de composição. O intuito éapresentar uma interpretação dos romances dessa fase inicial a partir da análise do modopelo qual o narrador do romance A mão e a luva (1874) o estrutura como forma, ou seja,busca-se demonstrar uma tensão: se por um lado se vê traços românticos na trama, nocomportamento de alguns personagens e em certas referências literárias, por outro senota que são inseridas reflexões que desarticulam tais características. A partir disso épossível observar um movimento ambíguo promovido pelo narrador: ele dá forma a umenredo tipicamente romântico, mas, ao mesmo tempo, desarticula essa forma pordentro, promovendo, assim, a desconstrução do dispositivo romântico. Isso ocorreporque a forma do romance acolhe dois princípios (a rigor) distintos, a narração e areflexão, e ambos são ativados pelo mesmo elemento: o narrador. Pretendo construiruma linha de interpretação que destaca os aspectos anti-românticos de um romance quefoi canonizado como representativo daquela escola. Acredito ser possível visualizar nosromances iniciais a “coluna vertebral” dos romances finais do autor, mostrando que já seencontra neles um olhar que rejeita o “olhar virginal” sobre a linguagem e o mundo.
Palavras-chave
Forma do romance; Machado de Assis; Romances iniciais; Romantismo; Realismo.
Referências
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