O retrato reverso da donna: retrato satírico em metáforas de doce em Fênix Renascida / The Reverse Portrait of the Donna: Satirical Portrait in Candy Metaphors in Fênix Renascida

Marcello Moreira, José Fernando Sales Gonçalves

Resumo


Resumo: Este artigo propõe-se analisar um dos gêneros mais produtivos da poesia palaciana portuguesa dos séculos XVI e XVII, o retrato elogioso da donna, de fundo petrarquista, largamente praticado no Quinhentos por poetas como Luís de Camões, Pero de Andrade Caminha e Sá de Miranda, e, no século seguinte, pelos poetas cujas obras foram reunidas nas coletâneas de verso Fênix Renascida e Postilhão de Apolo. Demonstra-se a prática de “notação” do retrato elogioso, discutem-se os preceitos retóricos e poéticos que o regravam, sua utilidade como controle dos afetos cortesãos, e como o seu contrário, o retrato cômico, especificamente aquele construído à base de metáforas de doce, valendo-se dos mesmos lugares comuns de invenção, disposição e elocução do gênero, articula a imagem reversa da donna, transformando a illustratio ou evidentia (de forte apelo visual), própria do retrato de tipo alto, em “apetite”, “gustação”, “gula” e “satisfação sexual”.

Palavras-chave: sátira; retrato poético; elogio da donna; ars laudandi; Fênix Renascida.

Abstract: This article proposes to analyze one of the most productive poetry genres of Portuguese palace in the 16th and 17th Centuries – praise of a lady, fundamentally Petrarchan, largely practiced in the 1500s by poets such as Luís de Camões, Pero de Andrade Caminha, and Sá de Miranda, and in the following century, by poets whose works were reunited in the collections of verses Phoenix Reborn (Fênix Renascida) and Apollo’s Postilion (Postilhão de Apolo). The practice of “Notation” in the complimentary portrait is demonstrated, the rhetorical and poetic precepts that are rewritten are discussed, its usefulness as a control on courtier affections as well as how its opposite, the comedic portrait, specifically that one built upon sweet metaphors, using the same commonplaces of invention, arrangement and elocution of the genre, articulates the reverse image of a lady, transforming the illustration or evidentia (of strong visual appeal), typical of the higher type portrait, into “appetite”, “gustation”, “gluttony”, and “sexual satisfaction”.

Keywords: satire; poetic portrait; praise of a donna; ars laudandi; Phoenix Reborn.


Palavras-chave


sátira; retrato poético; elogio da donna; ars laudandi; Fênix Renascida; satire; poetic portrait; praise of a donna; ars laudandi; Phoenix Reborn.

Texto completo:

PDF

Referências


ARISTÓTELES. Poética. Tradução, prefácio, introdução, comentário e apêndice de Eudoro de Sousa. 4. ed. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1994.

ARISTOTILE. Traduttione antica de la rettorica d’Aristotile, nuovamente trovata. Padova: [S. n.], 1548.

BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec, 1987.

BAXANDALL, Michael. Padrões de Intenção: a explicação histórica dos quadros. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

BLUMSON, Ben. Depiction and Convention. In: ______. Resemblance and Representation: An Essay in the Philosophy of Pictures. Cambridge, UK: Open Book Publishers, 2014. p. 67-83. Doi: https://doi.org/10.11647/OBP.0046.04.

BLUTEAU, D. Rafael. Diccionario da lingua portuguesa composto pelo padre D. Rafael Bluteau. Lisboa: Simão Thaddeo Ferreira, 1789. t. 1 (A-K).

CASTELNUOVO, Enrico. Retrato e sociedade na arte italiana. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

DOTTI, Ugo. Vida de Petrarca. Tradução de Luís André Nepomuceno. Campinas: Editora da Unicamp, 2006.

FICINO, Marsilio. Opera omnia. Basel: [S. n.], 1576.

HANSEN, João Adolfo. A sátira e o engenho: Gregório de Matos e a Bahia do século XVII. São Paulo/Campinas: Ateliê: Editora da Unicamp, 2004.

HANSEN, João Adolfo. Códigos bibliográficos, escribas, manuscritura e códices da poesia atribuída a Gregório de Matos e Guerra. In: MOREIRA, Marcello. Critica textualis in caelum revocata? Uma proposta de edição e estudo da tradição de Gregório de Matos e Guerra. São Paulo: Edusp, 2011. p. 13-41.

HANSEN, João Adolfo. Retórica e actio nos discursos coloniais. In: DAHER, Andrea (org.). Oral por escrito. A oralidade na ordem da escrita, da retórica à literatura. Chapecó/Florianópolis: Argos: Editora UFSC, 2018. p. 61-85.

HANSEN, João Adolfo: Categorias epidíticas da ekphrasis. Revista USP, São Paulo, n. 71, p. 85-105, 2006. Doi: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i71p85-105.

LAUSBERG, Heinrich. Elementos de Retórica Literária. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2011.

LOH, Mariah H. Renaissance Faciality. Oxford Art Journal, Oxford, v. 32, n. 3, p. 343-363, 2009. Doi: https://doi.org/10.1093/oxartj/kcp032.

LOMAZZO, G. Paolo. Trattato dell’arte della pittura, scoltura, et archittetura, dio Gio. Paolo Lomazzo, milanese pittore, diuiso in sette libri. Milano: Paolo Gottardo Pontio, 1585.

NASO, Publius Ovidius. Methamorphoses. Translated by Sir Samuel Garth, John Dryden, et al. [S. l.: s. n., 171-?]. Disponível em: http://classics.mit.edu/Ovid/metam.10.tenth.html. Acesso em: 12 abr. 2019.

RIPA, Cesare. Iconologia di Cesare Ripa Perugino. Padova: Pietro Paolo Tozzi, 1618.

SYLVA, Mathias Pereira da. A Fênix Renascida ou Obras Poeticas dos melhores Engenhos Portuguezes. Segunda vez impresso e acrescentado por Mathias Pereira da Sylva. Lisboa: Antônio Pedrozo Galram, 1746. t. III.

VINSAUF, Geoffroi de. Poetria Nova. In: FARAL, Edmond. Les Arts Poétiques du XIIe et du XIIIe Siècle: Recherches et Documents sur la Téchnique Littéraire du Moyen Âge. Genève: Slaktine; Paris: Champion, 1982.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2238-3824.24.3.105-123

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2019 Marcello Moreira, José Fernando Sales Gonçalves

Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.