A representação da representação: lirismo e ironia romântica em Vícios e virtudes, de Helder Macedo

Camila da Silva Alavarce Campos

Resumo


Resumo: O texto refere-se a um estudo dos processos de construção do romance Vícios e virtudes, de Helder Macedo, objetivando a retomada e a discussão do conceito de ironia romântica. Essa ironia, em especial, desmistifica os jogos da representação artística clássica, que entende o texto literário como imitação do real. Ao contrário disso, favorece a expressão do fazer literário com todas as suas limitações, elaborações e reelaborações de linguagem, legitimando o caráter de arte, de natureza fictícia e, pois, de exercício de experimentação presentes na literatura. O escritor Helder Macedo parece propor, no referido romance, uma reflexão acerca do processo criativo – reflexão que se ocupará fundamentalmente da construção da obra literária, compreendida enquanto criação permanente. Acreditamos que a ironia romântica potencializa essa reflexão, na medida em que desvela o fazer literário como encenação, como fingimento. Pensando na estrutura paradoxal da ironia, acreditamos que ela acaba por dizer sempre mais do que fica expresso e, nesse sentido, aproxima-se da literatura de um modo geral, mas, sobretudo, do estilo lírico. O elemento lúdico parece caracterizá-los, na medida em que ambos – a ironia romântica e o lírico – partem de uma espécie de jogo que contraria o pragmatismo da linguagem convencional. Para Antonino Pagliaro, “A ironia participa ao mesmo tempo do caráter agonístico do enigma e do jogo poético.” O romance Vícios e virtudes, do escritor português Helder Macedo, cria um espaço importante para o estudo das questões colocadas, já que expressa um projeto literário no qual se exibe uma intensa valorização do estético, do ficcional e do poético.

Palavras-chave: Ficção; ironia romântica; lirismo; representação.

 

Abstract: This study approaches the processes of construction of the novel Vices and virtues by Helder Macedo, aiming to discussthe concept of romantic irony. This irony, in particular, demystifies the games of classic artistic representation, which considers the literary text as an imitation of the real. In contrast, it favors the expression of literary writing with all its limitations, elaborations, and reworking of language, legitimizing the art and fictitious character and, therefore, of experimentation in literature. In the novel writer Helder Macedo seems to propose a reflection on the creative process that essentially works on the construction of the literary work, which is understood as a permanent creation. We believe that romantic irony enhances this reflection as it reveals the literary writing as staging and pretense. Thinking about the paradoxical structure of irony, we believe it always ends up saying more than what is expressed, thus, it approaches the literature in general, but especially the lyrical style. The playfulness seems to characterize them once both – the romantic irony and the lyrical aspect – run by a kind of game that contradicts the pragmatism of conventional language. To Antonino Pagliaro, “Irony is simultaneously involved in the agonistic character of the puzzle and in the poetic game”. The novel Vices and virtues by the Portuguese writer Helder Macedo, creates an important space for the study of the issues raised, once it expresses a literature project in which there is intense appreciation of the aesthetic, the fictional and the poetic characters.

Keywords: Fiction; romantic irony; lyricism; representation.


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Referências


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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2238-3824.19.1.5-22

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