Este poema não existe: um caso de intermidialidade (e magia) em Herberto Helder / This Poem Does Not Exist: A Case of Intermediality (and Magic) in Herberto Helder

Leonardo Chioda

Resumo


Resumo: O presente artigo pretende investigar as diferentes adaptações de um poema que Herberto Helder extirpou do conjunto de sua obra depois de assistir, durante sua estadia na África nos anos 60, a um curta-metragem baseado em seu texto. Ainda que a referência do poeta ao poema e à sua exclusão se restrinja à nota “(magia)”, em Photomaton & vox, o poema pode ser considerado um dos mais visuais e inquietantes de Herberto Helder, conforme é possível verificar em uma gravação em disco narrada pelo próprio poeta e por um curta-metragem mais recente disponível na internet, produzido pelo grupo O Dizedor. Partindo da premissa do próprio poeta de que “todo poema é um filme”, abordamos o poema original, publicado em 1968 no livro Apresentação do rosto, e procuramos demonstrar suas respectivas adaptações em áudio e vídeo e a outros textos de Herberto Helder afim de promover associações intermidiais, sobretudo entre a pintura e o cinema enquanto meios que permitem “ver” a poesia. Procuramos demonstrar que, mesmo sendo descartado por Herberto Helder, as várias releituras deste poema o tornam um dos mais adaptados dentre toda a sua obra.

Palavras-chave: Herberto Helder; intermidialidade; cinema; magia.

Abstract: This article intends to investigate the different adaptations of a Herberto Helder´s poem that he subtracted from his whole work after watching, during his stay in Africa in the Sixties, a short film based on his text. Although the poet’s reference to the poem and to its exclusion is restricted to the note “(magic)” on Photomaton & vox, the poem can be considered one of Herberto Helder’s most visual and unsettling texts, as can be verified through a disc recording which is narrated by the poet himself, as well as in a recent short film available on internet, produced by the group O Dizedor. Departing from the poet’s premise that “every poem is a movie”, we approach to the original poem, published in 1968 in the book Apresentação do rosto, and try and demonstrate their respective adaptations in audio and video as well as to other Herberto Helder´s texts in order to promote intermedial associations, especially between painting and cinema as ways to “see” the poetry. We try and demonstrate that, despite of being subtracted by Herberto Helder, the several rereading of this poem make it one of the most adapted among his whole work.

Keywords: Herberto Helder; intermediality; cinema; magic.


Palavras-chave


Herberto Helder; intermidialidade; cinema; magia; Herberto Helder; intermediality; cinema; magic.

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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2359-0076.39.62.127-144

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