“A Cena do Ódio” e o domínio do eu / “A Cena do Ódio” and the domains of the self

Annie Gisele Fernandes

Resumo


Resumo: Este ensaio propõe a leitura do poema “A Cena do Ódio”, de Almada Negreiros, a partir da perspectiva de que, ao mesmo tempo em que há a crítica incisiva, panfletária em alguns momentos, ao que o mundo moderno e contemporâneo se tornou, há a escrita e a representação do eu, cuja constituição, narcisisticamente feita, compõe um autorretrato esgarçado, mas hegemônico; totalizante, porém composto pelo recorta-e-cola (M. Foucault). O poema faz de maneira exemplar o movimento da Lírica e Sociedade (T. Adorno), reiterando sucessivamente o modo como o fora age no dentro e o que o Eu, co-movido, devolve ao mundo. Nesse movimento, o retrato do eu é também a resposta: “Serei Vitória um dia / – Hegemonia de Mim!” enquanto o mundo e a burguesia sintetizam-se no “e tu nem derrota, nem morto, nem nada”. A plasticidade do poema é desconcertante, assim como também o é a musicalidade, muitas vezes ressaltada por inusitadas aproximações entre palavras bastante diferentes do ponto de vista semântico, embora com bastante similitude sonora – esses aspectos que conferem musicalidade aos versos serão apontados na medida em que ampliam e/ou tensionam a representação do Eu.

Abstract: This essay proposes a close-reading of the poem named “A Cena do Ódio”, written by Almada Negreiros, considering that this composition, at the same time, strongly criticize the modern and contemporary world and it’s becoming rough and write and represent the self, whose constitution is developed in a narcissist way that brings out the portrait of an frayed, but hegemonic, self. This self is made of different characters from many others selves, cutted and pasted into an I who is deeply touched by the world but gives back to the word his self-portrait as a response: “I’ll be Victory a day” – Hegemony of myself!” [free translation]. To this self, the world and the bourgeoise can be defined into this: “and you, neither defeat, neither dead, neither nothing” [free translation]. This poem is definitely plastical and the images are disconcerting as is the musicality, obtained from unusual relations into sound similar words (although the meaning of each of them is very distinctly). These stylistic aspects will be discussed in cases it is possible to understand their importance to enlarge, while tensioning, the self-representation.


Palavras-chave


Almada Negreiros; Orfeu; ódio; autorretrato; pintura; hate; self-portrait; painting.

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Referências


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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2359-0076.44.71.%25p

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