Gil Vicente e a arte de pregar: o Auto dos Mistérios da Virgem ou da Mofina Mendes

Maria do Amparo Tavares Maleval

Resumo


Gil Vicente, considerado o ‘criador’ do teatro português, foi um grande conhecedor da arte de pregar medieval, que resultou da confluência da retórica clássica com a tradição exegeta e concionatória judaico-cristã. Chegou inclusive a escrever sermões sérios ou jocosos, mas sempre revestidos de caráter moralizante, como o ‘Sermão de Abrantes’, encomendado pela franciscana rainha D. Leonor, 1506. Em suas ‘moralidades’, como denominou as peças revestidas de caráter religioso, demonstrou claramente a utilização das técnicas e da finalidade da prédica, de doutrinação e conversão para uma vida virtuosa. Pretendemos observar, no ‘Auto dos Mistérios da Virgem’, que se popularizou como ‘Auto da Mofina Mendes’, re(a)presentado nas matinas do Natal de 1534 ao rei D. João III, os recursos retóricos que o aproximam do sermão, seu intuito de ensinar de forma agradável a doutrina e de fustigar os vícios da sociedade do seu tempo e do homem de todos os tempos.

Considéré comme le ‘créateur’ du théâtre portugais, Gil Vicente fut un grand connaisseur de l’art médiéval de prêcher, au confluent de la rhétorique classique et de la tradition exégétique et concionatoire judéo-chrétiènne. Il a en outre écrit des sermons sérieux ou plaisantes, mais toujours revêtus d’un caractère moralisant, comme le ‘Sermão de Abrantes’, commandé par la reine franciscaine D. Leonor, en 1506. Dans ses ‘moralités’, comme il a dénommé les pièces à caractère religieux, il a démontré nettement l’utilisation des techniques et la finalité de la prédication, en tant que doctrine et conversion à une vie vertueuse. Nous avons l’intention d’observer, dans l’ ‘Auto dos Mistérios da Virgem’, plus connu comme l ‘Auto da Mofina Mendes’, représenté dans les matines du Noël de l’année 1534 au roi D. João III, les recours rhétoriques qui le rapprochent du sermon et comment s’y exprime le souci dagrémenter l’enseignement de la doctrine et de fustiger les vices de la société de son temps et de l’homme de tous les temps.


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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2359-0076.32.47.163-184

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