“Tudo bem”, “tudo em paz” e “uma tremenda sorte”: Avaliações positivas no gerenciamento da incerteza na comunicação entre oncologistas e pacientes com câncer de mama

Joseane Souza, Ana Cristina Ostermann

Abstract


Resumo: Este artigo apresenta a investigação de interações entre oncologistas e mulheres com câncer de mama em consultas de acompanhamento ao longo de seus tratamentos ou de revisão. Especificamente, analisa-se como pacientes e médicos lidam interacionalmente com a impossibilidade de certezas nesse contexto. Além disso, reflete-se brevemente sobre as implicações desse gerenciamento para a prática médica na oncologia. A metodologia utilizada advém da abordagem teórico-metodológica da Análise da Conversa ou Fala-emInteração (SACKS, 1992). Os dados (24 consultas gravadas em áudio) foram gerados em um hospital da região sul do Brasil, transcritos segundo convenções próprias da área (JEFFERSON, 1984) e então analisados. A análise revela como as ações de avaliação e solicitação de avaliação realizadas por oncologistas e pacientes operam de forma a lidar com a impossibilidade da certeza nas consultas. No gerenciamento das incertezas envolvidas em consultas oncológicas, a análise também revela que e como as avaliações positivas produzidas pelos médicos podem ter consequências tranquilizadoras para a paciente.

Palavras-chave: câncer de mama; análise da conversa; comunicação médico-paciente; gerenciamento da incerteza.

Abstract: This article investigates interactions between oncologists and women patients of breast cancer in follow up appointments along their treatment or post treatment follow up appointments. In particular, we analyze how patients and physicians interactionally deal with the impossibility of certainty within this context. We also discuss on the implications of such interactional management for the medical practice. The theoretical and methodological perspective is that of Conversation Analysis or Talk in Interaction (SACKS, 1992). The interactions analyzed (24 audiorecorded consultations) were collected at a hospital in Southern Brazil, transcribed by using the conversation analytical conventions (JEFFERSON, 1984), and then analyzed. The analysis reveals the means by which the actions of evaluating and requesting for evaluation undertaken by oncologists and patients operate so as to deal with the impossibility of certainty in these consultations. In the management of uncertainty in the oncological consultations, the analysis also shows which and how positive evaluations produced by the physicians might have interactionally-demonstrated tranquilizing or alleviating consequences to the patients.

Keywords: breast cancer; conversation analysis; doctor-patient communication; management of uncertainty.


Keywords


breast cancer; conversation analysis; doctor-patient communication; management of uncertainty.

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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.25.2.609-640

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