A palatalização dos segmentos /t/ e /d/ adjacentes a ditongo em registros de fala mossoroense / Palatalization of the /t/ and /d/ segments adjacent to diphthong in speech records in people in Mossoró-RN city

Thayná Cristina Ananias, Carla Maria Cunha

Abstract


Resumo: Este artigo focaliza a análise do fenômeno da palatalização dos segmentos /t/ e /d/ em onset silábico contíguo a ditongo, em Mossoró–RN. As postulações de Clements e Hume (1996) sobre Geometria de Traços, de Selkirk (1982) sobre o Modelo Autossegmental de Sílaba formam a base teórica da pesquisa, que transversalmente traz também à discussão características socioculturais dos falantes (ARAGÃO, 2006, 2020; CARDOSO; MOTA; PAIM, 2012; WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006). A metodologia de coleta de dados envolve dois Questionários Fonético-Fonológicos Lúdicos, um Questionário Fonético-Fonológico e uma Narrativa Semidirigida aplicados a seis informantes. As variáveis extralinguísticas contempladas são sexo, idade e escolaridade. Após a pesquisa de campo, os dados foram registrados em transcrição fonética de oitiva e alguns deles passaram por análise acústica. A pesquisa objetiva verificar as motivações para a palatalização nessa comunidade, até então conhecida como não palatalizante. Os resultados indicam que a palatalização, em Mossoró, é linguisticamente significativa, principalmente no contexto de /t/ e /d/ em onset compartilhando sílaba átona final de palavra com ditongo iniciado por [i] ou [j]. Ademais, propõe-se a seguinte interpretação: a palatalização ocorre mediante espraiamento de nó Vocálico de /i/ e a africação mediante espraiamento desse nó e de [+contínuo], ramificado diretamente do nó Raiz. Por fim, a análise revela que há indícios de palatalização mais frequente por parte das mulheres e dos mais jovens – quando levado em consideração o âmbito extralinguístico.

Palavras-chave: palatalização; ditongo; geometria de traços; modelo autossegmental de sílaba; sociolinguística.

Abstract: This article emphasizes on the analysis of the phenomenon of palatalization of the /t/ and /d/ segments in syllabic onset contiguous to diphthong, in Mossoró–RN. The postulations by Clements and Hume (1996) on Feature Geometry, by Selkirk (1982) on the Autosegmental Syllable Model form the theoretical basis of the research, which transversally has also brought to the discussion sociocultural characteristics of the speakers (ARAGÃO, 2006, 2020; CARDOSO; MOTA; PAIM, 2012; WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006). The data collection methodology has involved two Playful Phonetic-Phonological Questionnaires, a Phonetic-Phonological Questionnaire and a Semi-Directed Narrative applied to six informants. The extra-linguistic variables considered are sex, age and education. After the field research, the data were recorded in hearing phonetic transcription and some of them underwent acoustic analysis. The research aims to verify the motivations for palatalization in this community, until then known as non-palatalizing. Results have indicated that palatalization is linguistically significant in Mossoró, especially in the context of /t/ and /d/ in onset sharing final unstressed syllable of word with diphthong beginning with [i] or [j]. Furthermore, the following interpretation is proposed: palatalization has occurd by spreading the /i/ Vowel node and the affrication by spreading of that node and [+continuous], branched from the Root node. Finally, the analysis has revealed that there is evidence of more frequent palatalization on the part of women and the younger ones – when taking the extralinguistic scope into account.

Keywords: palatalization; diphthong; feature geometry; autosegmental syllable model; sociolinguistics.


Keywords


palatalização; ditongo; geometria de traços; modelo autossegmental de sílaba; sociolinguística; palatalization; diphthong; feature geometry; autosegmental syllable model; sociolinguistics.

References


ARAGÃO, M. S. S. As variantes de natureza palatal no português do Brasil: descrição e transcrições. In: CARDOSO, S. A. M.; MOTA, J. A. (org.). Documentos 2: Projeto Atlas Linguístico do Brasil. Salvador: Quarteto, 2006. p. 147-158.

ARAGÃO, M. S. S. Falares nordestinos: aspectos socioculturais. Acta Semiotica et Lingvistica (ASEL), João Pessoa, v. 25, n. 1, p. 67-81, 2020. DOI: https://doi.org/10.22478/ufpb.2446-7006.44v25n1.53670

BARBOZA, C. L. F. Efeitos da palatalização das oclusivas alveolares do português brasileiro no percurso de construção da fonologia do inglês língua estrangeira. 2013. 265f. Tese (Doutorado em Linguística) – Centro de Humanidades, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2013.

BATTISTI, E.; DORNELLES FILHO, A. A. Análise em tempo real da palatalização de /t/ e /d/ no português falado em uma comunidade ítalo-brasileira. Revista da ABRALIN, [S.l.], v. 14, n. 1, p. 221-246, 2015. DOI: https://doi.org/10.5380/rabl.v14i1.42492

BATTISTI, E. et al. Palatalização das oclusivas alveolares e a rede social dos informantes. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL, [S.l.], v. 5, n. 9, p. 1-29, 2007.

BISOL, L. O ditongo em português. Boletim da ABRALIN, Campinas, v. 11, p. 41-47, 1991.

BISOL, L. (org.). Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro. 3. ed. PUCRS: Porto Alegre, 2001.

BISOL, L.; DA HORA, D. Palatalização da oclusiva dental e fonologia lexical. Letras, Santa Maria, n. 5, p. 25-40, 1993.

BRASIL, Comitê Nacional do Projeto ALiB. Atlas Linguístico do Brasil: questionário 2001. Londrina: Ed. UEL, 2001.

CALLOU, D.; BRANDÃO, S. O processo de palatalização no português do Brasil. Linguística, Santiago (Chile), v. 18, p. 57-73, 2006. Disponível em: https://www.mundoalfal.org/es/pt_vol18. Acesso em: 17 jun. 2021.

CARDOSO, S. A. M.; MOTA, J. A. (org.). Documentos 2: Projeto Atlas Linguístico do Brasil. Salvador: Quarteto, 2006.

CARDOSO, S. A. M.; MOTA, J. A.; PAIM, M. M. T. (org.). DOCUMENTO 3: Projeto Atlas Linguístico do Brasil. Salvador: Vento Leste, 2012. DOI: https://doi.org/10.1590/S1981-57942012000300006

CARVALHO, S. M. A. Um lugar (in)existente: o “país” de Mossoró” nas tramas da consciência histórica. 2012. 134f. Dissertação (Mestrado em História e Espaços) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2012. Disponível em: https://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UFRN_e4b92932896d22073a0d779673b60c95. Acesso em: 19 fev. 2021.

CARVALHO, S. D. M. Considerações de natureza diatópica sobre a oclusiva dental surda. In: JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPR, XX., 1998, Curitiba. Trabalho apresentado.

CEZARIO, M. M.; VOTRE, S. J. Sociolinguística. In: MARTELOTTA, M. E. (org.). Manual de Linguística. São Paulo: Editora Contexto, 2008. p. 141-155.

CLEMENTS, G. N. Place of Articulation in Consonants and Vowels: A Unified Theory. In: WORKING PAPERS OF THE CORNELL PHONETICS LABORATORY, 5., 1991, Ithaca. Proceedings […]. Ithaca: Cornell University, 1991. p. 77-123.

CLEMENTS, G. N. The Geometry of Phonological Features. Phonology Yearbook, Cambridge, v. 2, p. 225-252, 1985. DOI: https://doi.org/10.1017/S0952675700000440

CLEMENTS, G. N.; HUME, E. V. The Internal Organization of Speech Sounds. In: GOLDSMITH, J. A. (org.). The Handbook of Phonological Theory. Cambridge, MA: Blackwell Publisher, 1996. p. 180-226. Disponível em: http://www.blackwellreference.com/subscriber/book?id=g9780631201267_9780631201267 Acesso em: 17 jun. 2021.

CRISTÓFARO-SILVA, T. et al. Revisitando a palatalização no português brasileiro. Revista de Estudos Linguísticos, v. 20, n. 2, p. 59-89, 2012. DOI: https://doi.org/10.17851/2237-2083.20.2.59-89

CRISTÓFARO-SILVA, T.; LEITE, C. T. Padrões sonoros emergentes: (oclusiva alveolar + sibilante) no Português Brasileiro. Caderno de Letras, Londrina, v. 24, p. 15-36, 2015. DOI: https://doi.org/10.15210/cdl.v0i24.7270. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/cadernodeletras/article/view/7270. Acesso em: 19 fev. 2021.

CRISTÓFARO-SILVA, T. Dicionário de fonética e fonologia. 2ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2017.

CRISTÓFARO-SILVA, T.; BARBOZA, C.; GUIMARÃES, D.; NASCIMENTO, K. Revisitando a palatalização no português brasileiro. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v. 20, n. 2, p. 59-89, 2012. DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.20.2.59-89 Disponível: http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/2744. Acesso em: 19 fev. 2021.

CUNHA, C. M. Um estudo de fonologia da língua Makuxi (Karib): inter-relações das teorias fonológicas. 2004. 192f. Tese (Doutorado em Linguística) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, 2004.

CUNHA, C. M.; SILVA, P. S. M. A palatalização do /s/ em coda em registro de fala natalense. In: DA HORA, D. et al. (org.). Estudos linguísticos (teorias e aplicações): contribuições da Associação de Linguística e Filologia da América Latina – ALFAL. São Paulo: Terracota Editora, 2019. p. 45-62. Disponível em: https://www.mundoalfal.org/es/content/libro-estudos-linguísticos-teorias-e-aplicações-contribuições-da-alfal Acesso em: 20 mai. 2021.

DA HORA, D. A palatalização das oclusivas dentais: uma abordagem não-linear. DELTA, São Paulo, v. 9, n. 2, p. 175-193, 1993.

DIAS, E.; SEARA, I. Redução e apagamento de vogais átonas finais na fala de crianças e adultos de Florianópolis: uma análise acústica. Letrônica, Porto Alegre, v. 6, n. 1, p. 71-93, 2013.

MACEDO, S. S. A Palatalização do /s/ em coda silábica no falar culto recifense. 2004. 100f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Centro de Artes e Educação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2004. Disponível em: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/7973. Acesso em: 19 fev. 2021.

MATTOSO CAMARA JR, J. Estrutura da língua portuguesa. 21. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1992.

PESSOA, M. A. Os pós-vocálico na fala de Natal. In: SIMPÓSIO DIVERSIDADE LINGÜÍSTICA NO BRASIL, I., 1986, Salvador. Atas [...]. Salvador: UnBA, 1986. p. 209-216

QUANDT, V. O. Sobre a oclusiva dental sonora no corpus APERJ, In: JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPR, XX., 1998, Curitiba. Trabalho apresentado.

RÉVAH, I. S. L’évolution de la prononciation au Portugal et au Brésil du XVIe siècle à nos jours. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE LÍNGUA FALADA NO TEATRO, I., Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro: MEC, 1958. p. 387-399.

SELKIRK, E. The Syllabe. In: HULST. H.; SMITH, V. The Structure of Phonological Tepresentations (part II). Dordrecht: Foris, 1982. p. 337-383.

SILVA, J. J. D.; COSTA, C. P. G. Debucalização e fonologia autossegmental. Letrônica, Porto Alegre, v. 7, n. 2, p. 627-651, 2014. DOI: https://doi.org/10.15448/1984-4301.2014.2.17887. Disponível: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/letronica/article/view/17887. Acesso em: 19 fev. 2021.

SIMIONI, T. O glide e a estrutura silábica em português brasileiro. SILEL, 2., 2011, Uberlândia. Anais [...]. Uberlândia: EDUFU, 2011. v. 2. p 1-20. Disponível em: http://www.ileel.ufu.br/anaisdosilel/pt/arquivos/silel2011/1086.pdf. Acesso em: 19 fev. 2021.

WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M. Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística. São Paulo: Parábola, 2006.


Refbacks

  • There are currently no refbacks.
';



Copyright (c) 2021 Thayná Cristina Ananias, Carla Maria Cunha

Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.

e - ISSN 2237-2083 

License

Licensed through  Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional