Ideologias subjacentes aos estrangeirismos de origem inglesa no Brasil e a consciência sociolinguística / Ideologies underlying English loanwords in Brazil and sociolinguistic awareness

Marcely Monteiro Faria

Abstract


Resumo: Visando analisar a relação que os falantes possuem com os estrangeirismos, este estudo apresenta uma investigação das ideologias linguísticas subjacentes aos estrangeirismos no Brasil, por meio de um estudo de tratamento societal, tendo como corpus produções multimodais (memes, cartoons e tirinhas) coletadas em blogues, sites e redes sociais brasileiras. A coleta de dados se fez através de buscas na internet utilizando a palavra-chave estrangeirismos e os achados foram classificados quanto ao posicionamento que expressavam em relação a essas palavras.. Após uma comparação com a metalinguagem utilizada por Faraco (2001; 2004), Garcez e Zilles (2004), Schmitz (2004), Possenti, (2004), Fiorin (2004), Assis (2007) e Soares (2019), foram identificadas seis ideologias linguísticas subjacentes aos estrangeirismos de origem inglesa: estrangeirismos em excesso; estrangeirismos como vício de linguagem; estrangeirismos vistos como colonização ou dominação ideológica; estrangeirismos dificultam a compreensão; estrangeirismos como escolha estilística e por fim estrangeirismos através do viés da naturalização. A análise dos materiais evidencia que os falantes possuem opiniões variadas em relação aos estrangeirismos e essas opiniões ocorrem em forma de discursos específicos. Os falantes também possuem diferentes graus de consciência sociolinguística em relação aos estrangeirismos, e conseguem demonstrar isso no uso que fazem da língua.
Palavras-chave: ideologias linguísticas; estrangeirismos; tratamento societal.

Abstract: Aiming to analyze the relationship that speakers have with loanwords, this study presents an investigation of the linguistic ideologies underlying foreign words in Brazil through a study of societal treatment having as corpus multimodal productions (memes, cartoons and comic strips) collected in blogs, websites and social networks. Data collection was done through internet searches using the keyword estrangeirismos. The 40 findings were grouped as a result of the discursive similarity and classified according to the position they expressed in relation to foreign words, of which only a few were chosen to compose the present work. After a comparison with the metalanguage used by authors such as Faraco (2001; 2004); Garcez; Zilles (2004); Schmitz (2004); Possenti, (2004); Fiorin (2004); Assis (2007); Soares (2019) and others, six linguistic ideologies underlying English foreignisms were identified: excess loanwords; loanwords as a language vice; loanwords seen as colonization or ideological domination; loanwords as an impairment to understanding; loanwords as a stylistic choice and, finally, loanwords through the naturalization bias. The analysis of the discourse present in the materials allows us to conclude that the speakers have varied opinions in relation to foreign words and these opinions occur in the form of specific discourses. Speakers also have different degrees of linguistic and sociolinguistic awareness of foreign words, and they are able to demonstrate this in their use of language.
Keywords: linguistic ideologies; loanwords; societal treatment.

Keywords


ideologias linguísticas; estrangeirismos; tratamento societal; linguistic ideologies; loanwords; societal treatment

References


AS PROFUNDEZAS DO BRASIL AUTÓCTONE. Estrangeirismo é o cacete… 30 de maio de 2021. Twitter: @brasilautoctone. Disponível em: https://twitter.com/brasilautoctone/status/1399169379384844290/photo/1 Acesso em: 20 de fev. 2022.

ASTRAGEMICAZ. “dropar” é a abrasileiração do “drop” tipo “fanficar” da fanfic, “flopar/flopei/flopada” do flop ai ai a influência dos estrangeirismos dos fãs de ficar pop nas redes sociais dá nisso. 3 de jun de 2021. Twitter: @twiniebirds. Disponível em: https://twitter.com/twiniebirds/status/1400462751915339783. Acesso em: 20 de fev. 2022.

BRASIL. Projeto de Lei nº 1676 de 1999. Disponível em:https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=17069 Acesso em: 20 de jul. de 2020.

BRASIL. Projeto de lei 5632 de 2020. Disponível em: Acesso em 20 de junho de 2022.

BLOG DOS CURSOS. Anglicismos. Disponível em: http://blogdoscursos.com.br/anglicismo/ Acesso em: 20 de fev. 2022.

BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

BOUCHER, D. F. Conteúdo revisional 003 – 7º ano estrangeirismo – quarta-feira. Ágora discursiva. Agosto 15, 2016. Disponível em: http://agoradiscursiva.blogspot.com/2016/08/conteudo-revisional-7-ano.html Acesso em: 20 de fev. 2022

BOTTA, M. G. Breve estudo sobre os usos dos termos empréstimo e estrangeirismo na tradição linguística em língua portuguesa. Signo, Santa Cruz do Sul, v. 45, n. 82, p. 150-159, jan. 2020. DOI: https://doi.org/10.17058/signo.v45i82.14356.

CARDOSO, D. P. Atitudes linguísticas e avaliações subjetivas de alguns dialetos brasileiros. São Paulo: Blucher, 2015.

CANO, W. M.; PRADO, D. de F. Os estrangeirismos da área da informática no Aurélio XXI;. ALFA: Revista de Linguística, São Paulo, v. 50, n. 2, 2009. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/1423. Acesso em: 14 jun. 2021.

CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da língua portuguesa. 48.ed. revisada. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.

COLETTI, C. Eu gosto que as redes sociais popularizaram a frase “essa energia aqui” pra substituir o estrangeirismo “essa vibe”. Tem que descolonizar o léxico virtual mesmo. Tweet: @caiocoleti Disponível em: https://twitter.com/caiocoletti/status/1399119904280829955 Acesso em: 20 de fev. 2022.

ENTRELINHASDAVIDA. Estrangeirismos. 10 de out. de 2014. Disponível em: https://entrelinhasdavida1.wordpress.com/2014/10/10/estrangeirismo/ Acesso em: 20 de fev. 2022

FARACO, C. A. Estrangeirismos: guerras em torno da língua São Paulo: Parábola Editorial, 2004

FARACO, C. A. Empréstimos e neologismos: uma breve visita histórica. ALFA: Revista de Linguística, São Paulo, v. 45, -n. esp., p. 131-148, 2001. DOI:

FERRAZ, A. P. A renovação lexical e a dimensão social da língua. In: SEABRA, M C. (org.). O léxico em estudo. Belo Horizonte: Faculdade de Letras, 2006. p. 217-234.

FIORIN, J. L. Considerações em torno do Projeto de Lei nº 1676/99. In: FARACO, C. A. (org.). Estrangeirismos: guerra em torno da língua. São Paulo: Parábola, 2004. p. 107-125.

FREITAG, R. M. K. Et. al. Como o brasileiro acha que fala? Desafios e propostas para a caracterização do “português brasileiro”. Signo y Seña, Facultad de Filosofía y Letras (UBA), v. 1, n. 28, p. 65-87, 2015. DOI: https://doi.org/10.34096/sys.n28.3174.

FREITAG, R. M. K. Uso, crença e atitudes na variação na primeira pessoa do plural no Português Brasileiro. DELTA: Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicada, São Paulo, v.32, n.4, p.889-917, 2016. DOI: https://doi.org/10.1590/0102-44506992907750337

FREITAG, R. M. K. O desenvolvimento da consciência sociolinguística e o sucesso no desempenho em leitura. Alfa, São Paulo, v.65, 2021. DOI: https://doi.org/10.1590/1981-5794-e13027

FREITAG, R. M. K. et al. O uso da língua para a discriminação. A Cor das Letras, v. 21, n. 1, p. 185-207, 2020. DOI: https://doi.org/10.13102/cl.v21i1.5233

FREITAG, R. M. K. Saliência estrutural, distribucional e sociocognitiva. Acta scientiarum. Language and culture, v. 40, n. 2, p. e41173-e41173, 2018.DOI: https://doi.org/10.4025/actascilangcult.v40i2.41173

FREITAG, R. M. K. Projeto de pesquisa: A língua do universitário: fala, leitura e escrita para o letramento acadêmico. 2018. Disponível em: https://prograd.ufs.br/uploads/content_attach/path/26392/CECH_Raquel_Freitag_Letras_FalaLeituraEscrita.pdf. Acesso em: 20 abr. 2020.

GARCEZ, P. M.; ZILLES, A. M. S. Estrangeirismos: desejos e ameaças. In: FARACO, C. A. (org.) Estrangeirismos: guerra em torno da língua. São Paulo: Parábola, 2004, p.15-36. GARCIA, L. H. Empréstimos, estrangeirismos e neologismos: uma análise terminológica. 2014. 29 f. Monografia (Bacharelado em Línguas Estrangeiras Aplicadas) – Faculdade de Línguas Estrangeiras Aplicadas ao Multilinguismo e à Sociedade da Informação, Universidade de Brasília, Brasília, 2014. Disponível em: https://bdm.unb.br/bitstream/10483/8964/1/2014_LucasHenriqueGarcia.pdf acesso em 23 de jul. de 2021.

GARRETT, P. Attitudes to Language. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.

KRIEGER, F. 12 termos em inglês utilizados nos negócios (e que você precisa saber o que significam)

Informe Blumenau, 07 de jul de 2020. Disponível em: https://www.informeblumenau.com/12-termos-em-ingles-utilizados-nos-negocios-e-que-voce-precisa-saber-o-que-significam/ Acesso em: 20 de fev. 2022.

LABATE, F. G. Vocabulário da economia: formas de apresentação dos estrangeirismos. 136 f. 2008. Dissertação (Mestrado em Filologia e Língua Portuguesa) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. DOI:10.11606/D.8.2008.tde-25092008-154021.

LE BRETON, J. M. Reflexões anglófilas sobre a geopolítica do inglês. In: LACOSTE, Y. & RAJAGOPALAN, K. [org.]. A geopolítica do inglês. São Paulo: Parábola, 2005, p.12-26.

LEITE, M. Q. Purismo: do preconceito ao conceito. Revista da ANPOLL, v.X, n 3, p. 175-191, 1997.

MAGNANI, de S. C. O estrangeirismo como fator de prestígio social ou estratégia de marketing em estabelecimentos comerciais de Curitiba. 126 f. Dissertação, (Mestrado em Ciências Humanas pelo Departamento de Pós-Graduação do Mestrado em Cultura e Sociedade: diálogos interdisciplinares) – Programa de Pós-Graduação do Mestrado em Cultura e Sociedade, Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba: 2014. Disponível em: https://tede.utp.br/jspui/bitstream/tede/1568/2/O%20ESTRANGEIRISMO.pdf Acesso em: 20 jul. 2021.

MIKAELA S. Eu era um Zé Ninguém – Humor Pirata. Pinterest. Stefani Mikaela. Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/740419994978370848/ Acesso em 19 de jul de 2021.

OLIVEIRA, G. M. Brasileiro fala português: monolinguismo e preconceito linguístico. In: SILVA, F. L. da; MOURA, H. M. de H. (orgs). Direito à fala: A questão do preconceito linguístico. Florianópolis: Insular, 2000, p. 83-92.

PAIVA, M. F. et al. O uso de estrangeirismo em nomes de estabelecimentos comerciais na cidade de Arapongas (PR). Signum, Londrina, v. 5, n. 1, p. 227-237, 2002. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/signum/article/view/3672/2963 Acesso em 23 de jul. de 2021.

PACHECO, N. Salvem-nos o inglês! Ciberdúvida da Língua Portuguesa. 8 de jul de 2016. Disponível em: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/artigos/rubricas/idioma/salvem-nos-o-ingles/3378 Acesso em: 20 de fev. 2022.

POSSENTI, S. A Questão dos Estrangeirismos. In: FARACO, C. A. (org.) Estrangeirismos: guerra em torno da língua. São Paulo: Parábola, 2004, p.161-174.RAJAGOPALAN, K. Línguas nacionais como bandeiras patrióticas, ou a linguística que nos deixou na mão. In: RAJAGOPALAN, K; (orgs.) A linguística que nos faz falhar: investigação crítica. São Paulo: Parábola Editoria, 2004, p.11-38.

RAJAGOPALAN, K. A geopolítica da língua inglesa e seus reflexos no Brasil: por uma política prudente e propositiva. In: LACOSTE, Y.; RAJAGOPALAN, K (orgs.). A Geopolítica do Inglês. São Paulo: Parábola, 2005. p. 135-159.

RAJAGOPALAN, K. Por uma linguística crítica: linguagem, identidade e a questão ética. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

RIO GRANDE DO SUL. Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Projeto de Lei Raul Carrion 156/2009. Institui a obrigatoriedade da tradução de expressões ou palavras estrangeiras para a língua portuguesa, sempre que houver em nosso idioma palavra ou expressão equivalente, no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul e dá outras providências. Porto Alegre, 5 de agosto de 2009. Disponível em: http://proweb.procergs.com.br/Diario/DA20090817-01-100000/EX20090817-01-100000-PL-156-2009.pdf Acesso em 21 de jul. de 2021.

SANTOS, O. N. X-Burger em Outdoor: Uma questão de fronteiras. Tradução & Comunicação Revista Brasileira de Tradutores, São Paulo, v. 17, n.. 17, 2008. p. 49-58.

SCHMITZ, J. B. Língua portuguesa e estrangeirismos. Blog da Parábola Editorial. 01 Maio de 2017. Disponível em: https://www.parabolablog.com.br/index.php/blogs/lingua-portuguesa-e-estrangeirismos Acesso em: 20 de fev. 2022.

SCHMITZ, J. R. O projeto de lei no 1676/99 na imprensa de São Paulo. In: FARACO, C.(org.) Estrangeirismos: guerra em torno da língua. São Paulo: Parábola, 2004. p. 83-104.

SERRA, T. da. Até Que Ponto Devemos Condenar O Uso De Estrangeirismo Na Língua? Blog Descomplica. 24 de fevereiro de 2015. Publicado em 28 de mar, 2016 Disponível em:https://descomplica.com.br/blog/materiais-de-estudo/portugues/ate-que-ponto-devemos-condenar-o-uso-de-estrangeirismo-na-lingua/ Acesso em: 20 de fev. 2022.

SILVA, Carolina de Ribamar e. Empréstimos lingüísticos e estrangeirismo: a legitimação de teorias lingüísticas através de leigos. 135 f. Dissertação (mestrado pelo departamento de Ciências e Letras de Araraquara) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara, 2008. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/93965 Acesso em 20 de jul. 2021.

SILVA, A. K. R. da; VIEIRA, M. S. Crenças e atitudes linguísticas acerca de anglicismos no português brasileiro. Anais, i sielli, xix encontro de letras, língua literatura e ensino em tempos de ressignificação. 09 a 13 de nov. de 2020.

SILVA, S. P. Estilo e estilística em Bakhtin e Volóchinov: perspectivas em diálogo. Linha D’Água (Online), São Paulo, v. 33, n. 3, p. 79-103,. 2020.DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2236-4242.v33i3 p79-103.

SOARES, L. A. O uso da língua inglesa em nomes de estabelecimentos comerciais como forma de persuasão e estratificação social. Revista The Specialist, São Paulo, v. 40, n.2, p. irreg., 2019.. DOI: https://doi.org/10.23925/2318-7115.2019v40i2a9.

SWEET STUFF. Os estrangeirismos já chateiam pá. 2016. Disponível em: https://sweetstuff.blogs.sapo.pt/os-estrangeirismos-ja-chateiam-pa-215991 Acesso em: 20 de fev. 2022.

TESSMANN, K. R. Purismo na linguagem jurídica trabalhista: a proposta do ministro Marco Aurélio Mello. Trabalho de Conclusão de Curso, Curso de Pós-graduação Lato Sensu na área de Língua Portuguesa, Centro Universitário de Brasília (UniCEUB/CPD), Brasília –DF 2007.

TRUDGILL, P. Dialects in contact. Oxford: Blackwell,1986.

VIEIRA, J. R.; MOURA, H. M. de M. Língua estrangeira: direito ou privilégio? In: SILVA, F.; MOURA, H. M. de M. Moura (orgs.): O direito à fala: A questão do preconceito linguístico. Florianópolis: Insular, 2000. p.113-127.

XATARA, C. M. Estrangeirismos sem fronteiras. ALFA, São Paulo,, v. 45, n. esp, p. 149-154, 2001.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.0.0.%25p

Refbacks

  • There are currently no refbacks.
';



Copyright (c) 2023 Marcely Monteiro Faria

Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.

e - ISSN 2237-2083 

License

Licensed through  Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional