O percurso Kant-Blumenbach/Hamann-Humboldt e a filosofia da linguagem: som articulado, teleologia e metáforas do organismo / The Trajectory Kant-Blumenbach/Hamann-Humboldt and the Philosophy of Language. The Articulated Sound, Teleology and the Metaphor of the Organism

Taciane Domingues

Abstract


Resumo: Nosso objetivo é embasar a tradução do termo Bildungstrieb como “impulso formativo” na obra de Wilhelm von Humboldt Sobre a Diversidade de Construções Linguísticas e sua influência no desenvolvimento espiritual do gênero humano (SDCL), de 1836. Seguimos a orientação do filósofo neokantiano Ernst Cassirer e outros para os quais Humboldt mobiliza conceitos essenciais da filosofia de Immanuel Kant; dessarte, pelo cotejo filológico entre a fortuna crítica de I. Kant e Johann Friedrich Blumenbach e a obra de Humboldt, mapeamos o conceito de impulso formativo como aquele que marcou o debate sobre os corpos organizados na investigação da natureza. Para teorizar a formação do som articulado, Humboldt se inspira na discussão entre Kant e Blumenbach, para os quais a autonomia da matéria viva e o estatuto de seu desenvolvimento respondem ao impulso formativo – uma força natural que concilia a mecânica, conforme descrita pelas leis newtonianas, à teleológica, na qual algo é causa e efeito ao mesmo tempo. Como resultado, a teleologia se torna fundamental para Humboldt pensar o som articulado, o que, consequentemente, opõe-se à arbitrariedade do signo linguístico. Aproximando ainda mais Humboldt ao debate da natureza de Kant e Blumenbach, em SDCL também há ocorrência de metáforas do organismo, as quais desencadearam, por meio da crítica do filósofo Johann Georg Hamann à Kant, uma das primeiras reflexões sobre o papel da linguagem na filosofia crítica kantiana (projeto aderido por Humboldt). Assim, o percurso Kant-Blumenbach/Hamann-Humboldt explica o estatuto conferido por Humboldt à linguagem como o órgão formativo do pensamento.

Abstract: This study aims to support the translation of Bildungstrieb as “formative drive” in Wilhelm von Humboldt’s On the diversity of linguistic constructions and its influence in the spiritual development of mankind, 1836. The taken direction was given by the Neo-Kantian philosopher Ernst Cassirer (among others), for whom Humboldt mobilizes essential concepts from Immanuel Kant’s philosophy; thus, through philological comparison between Kant and Johann Friedrich Blumenbach’s critical fortunes and Humboldt’s work, the concept of “formative drive” was mapped as one that marked the debate on organized bodies in the investigation of nature. To theorize the formation of the articulated sound, Humboldt takes inspiration from Kant and Blumenbach’s debate, for whom the autonomy of living matter and the status of its development answer to the formative drive – a natural force that unites the mechanical one, as described by Newtonian laws, to the teleological one, in which something is cause and effect at the same time. As a result, teleology is fundamental to Humboldt’s reflection on the articulated sound, thus opposed to the arbitrary nature of the linguistic sign. Furthering Humboldt’s proximity to Kant and Blumenbach’s debate on nature, in Humboldt’s work there are metaphors of  the organism; metaphors became the focus of the philosopher Johann Georg Hamann critics to Kant in one of the first reflections on language’s role in the Kantian critical project (reflections adhered by Humboldt). Thus, the trajectory Kant-Blumenbach/Hamann-Humboldt explains Humboldt’s usage of a metaphor of organism to assert language’s status as the formative organ of thought.


Keywords


Wilhelm von Humboldt; Immanuel Kant; Johann Georg Hamann; filosofia da linguagem; impulso formativo; teleologia; philosophy of language; formative drive; teleology.

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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.31.3.1530-1556

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