Encenações do passado: a construção de um testemunho na minissérie brasileira Trago Comigo

Samira Pinto Almeida

Resumo


O presente trabalho tem por objetivo analisar o teleteatro denominado TragoComigo a partir de pontos específicos desenvolvidos pelas teorias sobre a memóriae sobre o trauma. A minissérie brasileira, exibida originalmente em quatro capítulos,tem em conta dois tipos de discursos: um de cunho documental, no qual sãoapresentados depoimentos de revolucionários torturados no período da ditadurabrasileira; outro de base ficcional, centrado em um personagem que viveu situaçõessemelhantes àquelas experimentadas pelos militantes de esquerda reais. Ashistórias (reais e ficcionais) entrelaçadas advogam a importância da preservação damemória coletiva através do relato que é pessoal e subjetivo por natureza. Assim,essas vozes marginalizadas, no sentido em que colidem com a voz autorizada eimpessoal da História, buscam uma memória-histórica multiperspectivada que nãoexclui o testemunho daqueles que tem apenas o próprio corpo como prova dasexperiências. A minissérie não esconde a fragilidade da memória, apresentando-acomo sendo fragmentada e pouco precisa em relação aos fatos. Na históriaficcional, as lacunas quando não se apresentam como um vazio sem vistas arecuperação são, por ora, preenchidas com lembranças inventadas a partir daimprovisação de atores que sequer faziam parte do universo do personagemdesmemoriado. Esta memória ficcionalizada não pretende servir aos interessesdidáticos de manuais escolares legitimados pelo sistema, mas manter vivo eatualizado um passado inglório que necessita ser chamado à cena para que taiscircunstâncias representadas não se repitam.

Palavras-chave


Memória; Testemunho; Trauma; Ditadura; Teledramaturgia

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DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2317-4242.4.0.170-193

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