Estudo comparativo da variação A GENTE ~ NÓS no falar baiano e no falar mineiro

Maria de Lourdes da Silva

Resumo


Analisamos separadamente a variação NÓS ~ A GENTE com sentido indeterminado e determinado na fala espontânea de sujeitos da cidade de Machacalis, Vale do Mucuri, considerada falar baiano; e da cidade de Ouro Branco, região Central, considerada falar mineiro (ZÁGARI, 1998) – dados do corpus VARFON-Minas. O objetivo é a comparação desses diferentes falares para melhor compreensão dos processos subjacentes a essa variação e melhor descrição do português do Brasil. Interessa-nos inicialmente observar o status da variação: em progressão? Estável? A pesquisa tem como base os princípios teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 1972). Segundo essa teoria, ao analisarmos o fator tempo aparente – a idade – podemos encontrar indícios de mudança linguística. Realizamos testes de qui-quadrado para observar a significância dos resultados. A variação NÓS ~ A GENTE, na função de sujeito com sentido indeterminado, não se apresenta da mesma maneira nos falares estudados. Em Ouro Branco, a variação se encontra estabilizada, com 96,7% (119/123) de realização da forma A GENTE, caracterizando um processo de mudança linguística. Não há diferença significativa entre as faixas etárias estudadas. Em Machacalis, os resultados mostram uma variação ainda em progressão. “Flagramos” nessa localidade um embate entre as variantes: a variante inovadora A GENTE (74/108, 68,5%) está tendendo a suplantar a forma conservadora NÓS, mas esse processo ainda está em progressão, pois há diferença significativa em relação às faixas etárias. Na função de sujeito determinado, a variação NÓS ~ A GENTE, na cidade de Ouro Branco, encontra-se estabilizada com 86% de realização da forma A GENTE. Em Machacalis, os resultados indicam uma variação em progresso da forma NÓS (58%). Comparamos os resultados da variação com sentido indeterminado com a variação com sentido determinado e verificamos que, em Ouro Branco, o uso de A GENTE encontra-se estabilizado com sentido determinado ou indeterminado. Em Machacalis, a forma A GENTE encontra-se em progressão com sentido indeterminado enquanto a tendência de uso para o sentido determinado é da variante NÓS, indício de especialização das formas.


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Referências


HOPPER, Paul; TRAUGOTT, Elizabeth. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press, 1993.

LABOV, William. Sociolinguistic Patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1972.

LOPES, Célia Regina dos S. A inserção de “a gente” no quadro pronominal do português: percurso histórico. 1999. 199 p. Tese (Doutorado) - Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1999.

LOPES, Célia Regina dos S. De gente para a gente: o século XIX como fase de transição. In: ALKMIN, Tânia M. Para a história do português brasileiro. São Paulo: FLP/USP, 2002. v. 3.

TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolingüística. São Paulo: Ática, 1990.

ZÁGARI, Mário Roberto L. Os falares mineiros: esboço de um Atlas Linguístico de Minas Gerais. In: AGUILERA, Vanderci de Andrade (Org.). A Geolinguística no Brasil: caminhos e perspectivas. Londrina: Editora da Universidade Estadual de Londrina, 1998.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2317-4242.7.0.76-91

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