Estética do movimento e adestramento do olhar: considerações sobre o futebol brasileiro de mulheres

Talita Machado Vieira

Resumo


O presente artigo, de natureza teórico-conceitual, questiona os juízos de torcedores sobre o futebol de rendimento praticado por mulheres, qualificando-o como pouco estimulante e não atrativo. Propusemos o exame sobre como a categoria gênero colabora para tal avaliação, partindo do entendimento do futebol como fenômeno estético e buscando evidenciar o caráter relacional da experiência que se produz no encontro entre torcedor e partida. Procuramos identificar os elementos que influem na avaliação de uma partida como boa ou bela. Posteriormente, nos debruçamos sobre a noção de percepção e as condições que a afetam e produzem enquanto matrizes perceptivas, nos aproximando do conceito de habitus. À luz dessas considerações, concluímos que o habitus esportivo, particularmente o futebolístico, no caso do Brasil, revela, também, a presença de um habitus de gênero pautado na diferenciação entre seres humanos, sobretudo com base na morfologia corporal. Assim, podemos afirmar que o futebol praticado por mulheres não evoca, por si mesmo, uma experiência estética desagradável, mas convoca a ampliação das sensibilidades do torcedor para acolher outras formas de manifestação deste esporte.


Palavras-chave


Futebol de mulheres; Experiência estética; Percepção.

Texto completo:

PDF

Referências


ALVES, Emiliano Rivello. Pierre Bourdieu: a distinção de um legado de práticas e valores culturais. Sociedade e Estado, Brasília, v. 23, n. 1, p. 179-184, jan.-abr., 2008.

BARREIRA, Cristiano Roque Antunes. Estrutura e gestão do sistema esportivo brasileiro e o projeto ético-político da Psicologia do Esporte. Conselho Regional de Psicologia de São Paulo – Psicologia do Esporte: contribuições para a atuação profissional, p. 56-60, São Paulo: CRP-SP, 2016.

BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1974.

BOURDIEU, Pierre. Como é possível ser esportivo?. Questões de Sociologia. Rio de Janeiro, Marco Zero, 1983, p. 136-53.

BOURDIEU, Pierre. Esboço de uma teoria da prática – precedido de três estudos sobre etnologia cabila. Oeiras: Celta, 2002.

BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. Trad. Daniela Kern; Guilherme J. F. Teixeira. São Paulo: Edusp; Porto Alegre: Zouk, 2007.

BRASIL. Decreto-Lei nº 3.199, de 14 de abril de 1941. Estabelece as bases de organização dos desportos em todo o país. Rio de Janeiro, RJ, 1941.

BRASIL. Deliberação nº 7-65, de 02 de agosto de 1965. Baixa instruções às entidades esportivas do país sobre a prática de desportos pelas mulheres. Brasília, DF, 1965.

CABRAL, Beatriz Angela Vieira. Ação cultural e teatro como pedagogia. Em Pauta, v. 12, n.1, p. 4.17, jun., 2012.

DAMO, Arlei Sander. Futebol e estética. São Paulo em Perspectiva, v. 15, n. 3, p. 82-91, 2001.

DAMO, Arlei Sander. Monopólio estético e diversidade configuracional no futebol brasileiro. Movimento: Revista de Educação Física da UFRGS, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 129-156, maio-ago., 2003.

DAMO, Arlei Sander. O futebol e suas propriedades estéticas: estilo, tempo e espaço em perspectiva antropológica. Estudos de Sociologia: Revista do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPE, Recife, v. 14, n. 2, p. 157-198, 2008.

DUNNING, Eric. As ligações sociais e a violência no desporto. In: ELIAS, Norbert; DUNNING, Eric. A busca da excitação. Trad. Maria Manuela Almeida e Silva. Lisboa: Difel, 1992, p. 327-354.

DUNNING, Eric. O desporto como uma área masculina reservada: notas sobre os fundamentos sociais na identidade masculina e suas transformações. In: ELIAS, N.; DUNNING, E. A busca da excitação. Trad. Maria Manuela Almeida e Silva. Lisboa: Difel, 1992, p. 389-412.

DUNNING, Eric; MURPHY, Patrick; WILLIAMS, John. A violência dos espectadores nos desafios de futebol: para uma explicação sociológica. In: ELIAS, Norbert; DUNNING, Eric. A busca da excitação. Trad. Maria Manuela Almeida e Silva. Lisboa: Difel, 1992, p. 355- 388.

ELIAS, Norbert. O processo civilizador: formação do Estado e civilização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

ELIAS, Norbert; DUNNING, Eric. A busca da excitação. Trad. Maria Manuela Almeida e Silva. Lisboa: Difel, 1992.

FARIAS, Tássio Ricelly Pinto; COSTA, Jean Henrique. Ensaio sobre o ‘gosto’ em Theodor W. Adorno e Pierre Bourdieu. Acta Scientiarum – Human and Social Sciences, Maringá, v. 37, v. 1, p. 93-101, jan.-jun., 2015.

GOELLNER, Silvana Vilodre. Mulheres e futebol no Brasil: entre sombras e visibilidades. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 19, n. 2, p. 143-51, 2005.

HOBSBAWM, Eric. Introdução: a invenção das tradições. In: HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence (Orgs.). A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, p. 9-23.

KESSLER, Cláudia Samuel. Futebol ou futebóis: é plural ou singular? In: ______. (Org.) Mulheres na área: gênero, diversidades e inserções no futebol. Editora UFRGS, 2016, p. 21-41.

NERI MARINHO, Daniel Jorge. Valor estético do futebol: o olhar do apreciador com conhecimento profundo do jogo. Dissertação (Licenciatura em Desporto e Educação Física). Universidade do Porto, Faculdade de Desporto, Porto, 2007.

RICOUER, Paul. Escritos e conferências 3: antropologia filosófica. Trad. Lara Christina de Malimpensa. São Paulo: Edições Loyola, 2016.

SETTON, Maria da Graça Jacintho. A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura contemporânea. Revista Brasileira de Educação, n. 20, p. 60-70, maio-jun.-ago., 2002.

VIEIRA, Talita Machado. Futebol não é (só) brincadeira: os processos de formação e subjetivação de atletas. Dissertação (Mestrado em Psicologia). Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Assis, 2017.

WERLE, Marco Aurélio. Mikel Dufrenne: a fenomenologia da experiência estética. Sapere Aude, Belo Horizonte, v. 6, n. 12, p. 456-464, jul.-dez., 2015.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2526-4494.4.1.51-71

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


ISSN: 2526-4494 / Qualis-Capes: A4 (provisório)


Licença Creative Commons

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.