Política, educação e desigualdades: três perspectivas, confinamentos e hibridizações

Marisa Ribeiro Teixeira Duarte

Abstract


Reumo: O artigo sistematiza abordagens sobre política provenientes de três subáreas de conhecimento e que conduzem a compreensões diferenciadas das relações entre educação e desigualdades. A tradição sociológica francesa reconhece a origem do poder nas estruturas organizadoras das sociedades e o conhecimento sobre o poder advém do reconhecimento das estruturas sociais. A abordagem analítica, exposta por Arendt e Foucault no campo da filosofia política, reconhece o poder como promotor de ações concertadas. Sua efetividade requer a formação de consensos ou a adesão sincera dos agentes às regras sociais. Com a sociologia política de matriz weberiana, o poder decorre da apropriação de recursos diversos, que constroem a capacidade de uns em orientar o sentido da ação de outros. Por último, os estudos em políticas públicas, subárea analítica mais recente, onde o poder é apreendido como ação de atores conscientes que, ao expor seus interesses, formulam demandas. Cada subárea parte de ideias distintas para o estudo do fenômeno do “poder” e, ao longo do tempo, organizaram conceitos, categorias, discursos. As apropriações dessas abordagens nos estudos de política educacional têm consequências para as análises das relações entre educação e desigualdades e podem produzir tanto efeitos de confinamento, quanto de hibridismos.

Palavras-chave: Educação e poder; educação e política; educação e desigualdades.

Abstract: This article explores approaches to policy concerning three sub-areas of knowledge and leads to different understandings of the relationship between education and inequality. The French sociological tradition recognizes the power source in organizational structures of societies and the knowledge of power coming from the recognition of social structures. The analytical approach, espoused by Arendt and Foucault in the field of political philosophy, recognizes power as a promoter of concerted actions. Its effectiveness requires the formation of consensus or agents’ sincere adherence to social rules. With the political sociology of Weber, power stems from the ownership of various resources, building a capacity to guide the direction of the action of others. Finally, studies in public policy, the last analytical subarea, where power is perceived as the action of actors, who are aware that by exposing their interests, they formulate demands. Each area has different ideas for the study of the “power” phenomenon and, over time, of organized concepts, categories, and discourses. The appropriation of these approaches in educational policy studies have consequences for the analysis of the relationship between education and inequality and can produce both confinement effects as well as hybridisms.

Keywords: Education and Power; Education and Policy; Education and Inequality.


Keywords


Education and Power; Education and Policy; Education and Inequality.

References


ALMEIDA FILHO, N.; CORRÊA, V. P. A CEPAL ainda é uma escola do pensamento? Revista de Economia Contemporânea, Instituto de Economia da UFRJ, v. 15, p. 92-111, 2011.

ARENDT, H. Crises da república. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1973.

ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 1997.

BARBOSA, M. L. de O. O poder na sociologia francesa ou a força da regra. In: NOBRE, R. F. (Org.). O poder no pensamento social. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2008.

BARRAULT-STELLA, L.; GOSTELLEC, G. Introduction: l'éducation entre sociologie et Science politique, des convergences contemporaines à leurs limites. Education et Sociétés, Cairn.Info, v. 36, n. 2, p. 5-18, 2015.

BEN-AYED, C.; POUPEAU, F. École ségrégative, école reproductive. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, Cairn.Info, v.180, n.5, p.4-10, 2009.

BOURDIEU, P.; PASSERON, J-C. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. 2. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.

BOURDIEU, P. Science de la science et réflexivité: cours et travaux. Paris: Raison d'Agir Éditions. 2001.

BUSEMEYER, M. R.; TRAMPUSCH, C. Comparative political science and the study of education. British Journal of Political Science, Cambridge, v. 41, n. 2, p. 413-443, 2011.

CAMPOS, M. M. Educação e políticas de combate à pobreza. Revista Brasileira de Educação, ANPEd: Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, n. 24, p. 183-191, dez. 2003.

CARVALHO, J. S. F. de. A liberdade educa ou a educação liberta? Uma crítica das pedagogias da autonomia à luz do pensamento de Hannah Arendt. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 36, n. 3, p. 839-851, dez. 2010.

CARVALHO, J. S. F. de. Política e educação em Hannah Arendt: distinções, relações e tensões. Educação & Sociedade, Campinas, v. 35, n. 128, p. 813-828, set. 2014.

CARVALHO, J. S. F. de. Autoridade e educação: o desafio em face do ocaso da tradição. Revista Brasileira de Educação, ANPEd: Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, v.20, n.63, p.975-993, dez. 2015.

COLLIER, S. J. Topologias de poder: a análise de Foucault sobre o governo político para além da "governamentalidade". Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, UnB, n. 5, p. 245-284, jul. 2011.

CASTRO, E. Vocabulário de Foucault. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

CHARAUDEAU, P. Representação social. In: CHARAUDEAU, P.; MAINGUENEAU, D. (Ed.). Dicionário de Análise do Discurso. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2008. p.431-433.

CÉSAR, M. R. de A. Pensar a educação depois de Foucault. Revista Cult, n. 134, mar. 2010. Disponível em: http://revistacult.uol.com.br. Acesso em: 24 jul. 2016.

DOMINGUES, J. M. Sociologia e modernidade: para entender a sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.

DI GIOVANNI, G. Abordagens cognitivas. In: DI GIOVANNI, G; NOGUEIRA, M. A. (Org.). Dicionário de políticas públicas. 2. ed. São Paulo: Editora Unesp: Fundap, 2015.

DURKHEIM, É. A divisão do trabalho social. Porto, PT: Editorial Presença, 1984.

DURKHEIM, É. Lições de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

DURKHEIM, É. O ensino da moral na escola primária. Novos Estudos - CEBRAP, v. n/c, n. 78, p. 59-75, 2007.

FELOUZIS, G.; MAROY, C.; VAN ZANTEN, A. Les marchés scolaires: sociologie d'une politique publique d'éducation. Paris: Presses Universitaires de France, 2013.

FRASER, N. Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça na era pós-socialista. In: SOUZA, J. Democracia hoje: novos desafios para a teoria democrática contemporânea. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.

FRASER, N. Reconhecimento sem ética? Lua Nova, São Paulo, n. 70, p. 101-138, 2007.

KINGDON, J. W. Agendas, alternatives and public policies. 2. ed. United States: Addison-Wesley Educational Publishers Inc., 2003.

LASCOUMES, P.; LE GALÈS, P. Sociologie de l'action publique. Paris: Armand Colin, 2007.

LECA, J. L´état entre politics, policies et polity: on peut-on sortir du triangle des Bermudes? Gouvernement & Action Publique, Cairn.Info, v. 1, n. 1, p. 59-82, 2012.

MAROY, C. École, régulation et marché: une comparation de six espaces scolares locaux en Europe. Paris: PUF, 2006.

MAROY, C. Regulação dos sistemas educacionais. In: VAN ZANTEN, A. (Org.). Dicionário de Educação. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2011.

MAROY, C. Post-bureaucratic mode of governance. In: STEINER-KHAMSI, G.; WALDOW, F. (Ed.). Policy borrowing and lending in education: word yearbook of education. New York: Routledge, 2012. p. 62-79.

MARTUCCELLI, D. Sociologias de la modernidade: itinerário del siglo XX. Santiago: LOM Ediciones. 2013.

NÓVOA, A. Professores: imagens do futuro presente. Lisboa: Educa, 2009.

PERISSINOTTO, R. M. Hannah Arendt, poder e a crítica da "tradição". Lua Nova, São Paulo, n. 61, p. 115-138, 2004.

PERISSINOTTO, R. M. Poder: imposição ou consenso ilusório. Por um retorno a Max Weber. In: NOBRE, R. F. (Org.). O poder no pensamento social. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2008.

PETITAT, A. Produção da escola/produção da sociedade: análise sócio-histórica de alguns momentos decisivos da evolução escolar no ocidente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

RIBEIRO, V.; PARAÍSO, M. A. Currículo e MST: conflitos de saberes e estratégias na produção de sujeitos. Educação & Realidade, UFRGS, v. 40, n. 3, p. 785-808, 2015.

SOUZA, C. Estado da arte da pesquisa em políticas públicas. In: HOCHMAN, G.; ARRETCHE, M; MARQUES, E. (Org.). Políticas públicas no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007. p.65-86.

STEINER-KHAMSI, G. Understanding policy borrowing and lending: building comparative policy studies. In: STEINER-KHAMSI, G.; WALDOW, F. (Ed.). Policy borrowing and lending in education: word yearbook of education. New York: Routledge, 2012. p. 3-17.

TIBURI, Márcia. Ocupar como conceito político. Revista Cult. Publicado dia 08/06/2016 por redacaocult, nas categorias: Blog Marcia Tiburi, exclusivo do Site. Disponível em: http://revistacult.uol.com.br/home/2016/06/ocupar-como-conceito-politico/ Acesso em: 12 jun. 2016.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.24.3.841-866

Refbacks

  • There are currently no refbacks.
';



Copyright (c) 2016 REVISTA DE ESTUDOS DA LINGUAGEM

Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.

e - ISSN 2237-2083 

License

Licensed through  Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional