Pós-fordismo, TICs e tecnolinguagem / Post-Fordism, ICTs and Technolanguage

Luiz Rosalvo Costa, Nadson Cardoso de Jesus

Abstract


Resumo: Este artigo busca sistematizar uma reflexão sobre formas pelas quais transformações imbricadas na passagem do fordismo-taylorismo para o pós-fordismo se associam ao desenvolvimento de processos de interação e práticas linguísticas em que traços como tecnologização, virtualização e des-referencialização se apresentam como elementos constitutivos. Tendo como referência de fundo a concepção de linguagem do Círculo de Bakhtin, a argumentação mobiliza contribuições teóricas e analíticas que incidem sobre as formas de organização assumidas pelo capitalismo pós-industrial, entre elas as de Harvey (2010) e Castells (2002), com as quais procura articular abordagens voltadas para o papel da linguagem na configuração da sociedade pós-fordista, em particular as de Lazzarato (2014), Berardi (2020) e Virno (2014). O corpus do artigo consiste de recortes de enunciados colhidos em processos de interação observados em plataformas e aplicativos online diversos. Entre as conclusões a que a argumentação desenvolvida no artigo conduz pode ser indicada a ideia de que a proeminência das tecnologias de informação e comunicação ensejada pelo sistema de produção e regulação social pós-fordista tem como um de seus efeitos a constituição de uma tecnolinguagem que, inscrita em diferentes práticas linguístico-discursivas, é caracterizada, entre outras coisas, pela hibridização de elementos reais e virtuais, naturais e artificiais, humanos e maquínicos.

 

Abstract: This article intends to systematize a discussion on the ways in which transformations imbricated in the passage from Fordism-Taylorism to post-Fordism are associated with the development of interaction processes and linguistic practices in which traits such as technologization, virtualization, and de-referentialization are presented as constitutive elements. The argumentation mobilizes theoretical and analytical contributions that focus on the forms of organization assumed by post-industrial capitalism, including those of Harvey (2010) and Castells (2002), with which it seeks to articulate approaches focused on the role of language in the configuration of post-Fordist society, in particular those of Lazzarato (2014), Berardi (2020) and Virno (2014). The corpus of the article consists of excerpts from utterances collected in interaction processes observed on various online platforms and applications. Among the conclusions to which the argumentation developed in the article leads can be indicated the idea that the prominence of information and communication technologies brought about by the post-Fordist system of production and social regulation has as one of its effects the constitution of a technolanguage that, inscribed in different linguistic-discursive practices, is characterized, among other things, by the hybridization of real and virtual, natural and artificial, human and machinic elements.


Keywords


tecnolinguagem; TICs; pós-fordismo; significação; technolanguage; ICTs; post-Fordism; meaning..

References


ABÍLIO, L. C. Uberização traz ao debate a relação entre precarização do trabalho e tecnologia. In: IHU Online. Revista do Instituto Humanitas Unisinos, Edição 503, Abr-2017, pp. 20-27. Disponível em: https://www.ihuonline.unisinos.br/edicao/503. Acesso em 7/1/2023.

ANTUNES, R. O privilégio da servidão. O novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018.

BAKHTIN, M. A teoria do romance I – A estilística. Tradução: Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2015[1934-35].

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Tradução: Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2016 [1952-53].

BERARDI, F. Asfixia. Capitalismo financeiro e insurreição da linguagem. Tradução:Humberto do Amaral. São Paulo: Ubu Editora, 2020.

BRAIDOTTI, R. The posthuman. Cambridge/UK, Malden/USA: Polity Press, 2013.

BRIDLE, J. A nova idade das trevas. A tecnologia e o fim do futuro. Tradução: Érico Assis. São Paulo: Todavia, 2019.

BRUNO, F. et al. (orgs.) Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. Tradução: Heloísa Cardoso Mourão et al. São Paulo: Boitempo, 2018.

CASTELLS, M. A sociedade em rede. (A era da informação: economia, sociedade e cultura, vol. 1) Tradução: Roneide Venancio Majer e Klauss Brandini Gerhardt. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

DELEUZE, G. Post-scriptum sobre as sociedades de controle. In: Conversações 1972-1990. Tradução: Peter Pál Pelbart. São Paulo: Editora 34, 1992. p. 219-226.

FUMAGALLI, A. Bioecononía y capitalismo cognitivo. Tradução: Antonio Antón Hernández, Joan Miquel Gual Vergas y Emmanuel Rodríguez López. Madri: Traficantes de sueños, 2010.

FUMAGALLI, A. A nova relação capital-trabalho ainda mais submersa na subjetividade (entrevista). Tradução: Moisés Sbardelotto. In: IHU Online. Revista do Instituto Humanitas Unisinos, Edição 503, Abr-2017, p. 8-15. Disponível em: https://www.ihuonline.unisinos.br/edicao/503. Acesso em 7/1/2023.

GILLESPIE, T. A relevância dos algoritmos. Parágrafo, São Paulo, v. 6, n. 1, 2018, p. 95-121. Disponível em: https://revistaseletronicas.fiamfaam.br/index.php/recicofi/article/view/722. Acesso em 7/1/2023.

HAN, B-C. No enxame. Perspectivas do digital. Tradução: Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2018.

HABERMAS, J. Teoria do agir comunicativo (vol. 1). Racionalidade da ação e racionalização social. Tradução: Paulo Astor Soethe. São Paulo: Martins Fontes, 2012

HARAWAY, D. Manifesto ciborgue. Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX. Tradução: Tomaz Tadeu. In: HARAWAY, D.; KUNZRU, H.; TADEU, T. (org.) Antropologia do ciborgue. As vertigens do pós-humano. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

HARVEY, D. A condição pós-moderna. 20. ed. Tradução: Adail Ubirajara Sobral; Maria Stela Gonçalves. São Paulo: Loyola, 2010.

JAMESON, F. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. Tradução: Maria Elisa Cevasco. São Paulo: Ática Editora, 1996.

LAZZARATO, M. Signos, máquinas, subjetividades. Tradução: Paulo Domenech Oneto eHortência Lencastre. São Paulo: Edições Sesc, 2014.

LAZZARATO, M. As revoluções do capitalismo. Tradução: Leonora Corsini. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

LIPOVETSKY, G. Os tempos hipermodernos. Tradução: Mário Vilela. São Paulo: Barcarola, 2004.

MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. Tradução: Cecília P. Souza-e-Silva e Décio Rocha. São Paulo: Cortez, 2001.

MARAZZI, C. O lugar das meias. A virada linguística da economia e seus efeitos sobre a política. Tradução: Paulo Domenech Onero. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.

MARAZZI, C. Capital y lenguaje. Hacia el gobierno de las finanzas. Tradução: Emilio Sadier. Buenos Aires: Tinta Limón, 2014.

MARX, K. Grundrisse. Manuscritos econômicos de 1857-1858. Esboços da crítica da economia política. Tradução: Mario Duayer e Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2011[1857-1858].

MEDVIÉDEV, P. O método formal nos estudos literários – Introdução crítica a uma poética sociológica. Tradução: Ekaterina V. Américo e Sheila C. Grillo. São Paulo: Contexto, 2012[1928].

NEGRI, A. Biocapitalismo. Entre Spinoza e a constituição política do presente. Tradução: Maria Paula Gurgel Ribeiro. São Paulo: Iluminuras, 2015.

PENNYCOOK, A. Posthumanist Applied Linguistics. London/New York: Routledge, 2018.

SILVEIRA, S. A. Regulação algorítmica e os estados democráticos. ComCiência - Revista Eletrônica de Jornalismo Científico, Dossiê Algoritmos, dez-2018 a fev-2019. Disponível em https://www.comciencia.br/regulacao-algoritmica-e-os-estados-democraticos. Acesso em 21/1/2023.

VALENTE, J. C. L. Tecnologia, informação e poder: das plataformas online aos monopólios digitais. 400 f. Tese (Doutorado em Sociologia) - Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Brasília, 2019.

VOLÓCHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem. Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução:Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, [1929] 2017.

VIRNO, P. A gramática da multidão. Para uma análise das formas de vida contemporânea. Tradução: Leonardo Palma Retamoso. São Paulo: Annablume, 2013.

ZUBOFF, S. Big other: capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização de informação. Tradução: Antonio Holzmeister Oswaldo Cruz e Bruno Cardoso. In: BRUNO, F. et al. (org.) Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. Tradução: Heloísa Cardoso Mourão et al. São Paulo: Boitempo, 2018. p. 17-68.




DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.32.1.8-27

Refbacks

  • There are currently no refbacks.
';



Copyright (c) 2024 Luiz Rosalvo Costa, Nadson Cardoso de Jesus

Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.

e - ISSN 2237-2083 

License

Licensed through  Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional