Resumo
Dentro de uma tradição que se inicia no século XVII, ao confluir educação e literatura, as cartilhas ou abecedários sempre associaram a aprendizagem da leitura aos processos de imaginação próprios à infância. No contemporâneo, alguns livros categorizados como abecedários literários despontam pela potência de sua ludicidade poética ao brincar com palavras e imagens no estruturar o letramento estético, levando-nos a questionar: como a literatura para infância desconstrói o alfabeto para construir o leitor literário? Partindo dessa questão, tomamos os títulos A E I O U (2008), de Angela Lago e Zoé Rios, e ABC em movimento (2006), de Suzy Lee, como corpus representante de nossa discussão. Para auxiliar nossa reflexão sobre essas experiências de linguagem, partimos do pensamento por semelhanças de Walter Benjamin (1985; 2002; 2013), que embasa as discussões de Giorgio Agamben (2005), sobre in-fância da linguagem, e de Georges Didi-Huberman (2017), sobre desaprender a aprender, apesar de tudo.